Interação formiga-planta em solo de Mata Atlantica : influencia das formigas na ecologia de frutos e sementes não-mirmecocoricas

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

Este estudo trata das interações entre formigas e diásporos não-mirmecocóricos no chão de uma floresta Atlântica (Parque Estadual Intervales) no sudeste do Brasil. Conduzido entre abril de 1995 e junho de 1997, o estudo foi dividido em três partes que abordam as duas formas pelas quais os diásporos não-mirmecocóricos tomam-se disponiveis para as formigas que frequentam o chão da floresta: (1) caídos das árvores (Capítulos 1 e 2) e (2) contidos nas fezes de vertebrados frugívoros (Capítulo 3). O Capítulo 1 relata o levantamento das interações entre formigas e diásporos não-mirmecocóricos feito durante dois anos ao longo de um transecto de 5 km amostrado mensalmente. Um total de 886 interaçôes envolvendo 37 espécies de formigas e 56 diásporos foram registradas. O número de interações registrado mensalmente não esteve correlacionado nem com a temperatura média nem com a pluviosidade mensais que, no entanto, estiveram positivamente correlacionadas com o número de espécies de formigas registrado nas interações. Possíveis padrões de variação sazonal no uso de diásporos pelas formigas podem ter sido mascarados pelo uso constante deste recurso pelas duas espécies de formigas mais abundantes na área de estudo (uma Pheidole e uma Solenopsis), e pela frutificação massiça de algumas plantas cujos diásporos são especialmente atrativos para as formigas. No capítulo 2, seis plantas não-mirmecocóricas (Virqla oleifera, Eugenia stictosepala, Cabralea canjerana, Citharexylum myrianthum, Alchomea glandulosa e Hyeronima alchorneoides), cujos diásporos diferem em tamanho e conteúdo lipídico, foram selecionadas para a investigação de como estas características afetam a interação formiga-diásporo. As formigas rapidamente descobriram e limparam (i. e., removeram a polpa ou arilo) os diásporos colocados no chão da floresta. A taxa de recrutamento e a presença das formigas foi maior para os diásporos ricos em lipídeos do que para aqueles pobres em lipídeos. A taxa de remoção e a distância média de deslocamento foi maior para os diásporos pequenos. A formiga Ponerinae Pachycondyla striata, uma das que mais frequentemente explorou os diásporos ricos em lipídeos, transportou estes diásporos para seus ninhos e, posteriormente, abandonou-os limpos e intactos nos "depósitos de lixo" localizados fora dos ninhos. Testes de germinação com diásporos limpos e "não-limpos" revelaram que a remoção da polpa ou arilo aumenta o sucesso de germinação em Virola oleifera, Cabralea canjerana, Citharexylum myrianthum e Alchornea glandulosa. Um análise por cromatografia gasosa revelou que a composição de ácidos graxos dos arilos estudados era bastante semelhante à do elaiossomo de uma semente mirmecocórica típica (Ricinus communis), corroborando assim a hipótese de que alguns arilos e elaiossomos são estruturas quimicamente semelhantes. No Capítulo 3, a remoção por formigas de três espécies de sementes (Philodendron corcovadensis e P. apendiculatum - Araceae e Aechmea sp. - Bromeliaceae) naturalmente encontradas nas fezes de macacos-prego (Cebus apella) foi investigada no sub-bosque e em cinco clareiras. A variação na taxa de remoção entre as sementes pesquisadas, entre sub-bosque e clareiras e também entre as várias clareiras (que diferiam em tamanho e estágio sucessional), foi abordada. Dezessete espécies de formigas (4 subfamílias, 9 gêneros) foram registradas nas fezes, oito das quais removeram sementes. Após 24 h de exposição às formigas, 68 % das sementes foram removidas das porções experimentais de fezes que continham 15 sementes. A espécie de semente afetou a taxa de remoção tanto na comparação sub-bosque vs. clareiras quanto na comparação entre clareiras, enquanto o sítio de deposição das fezes não teve nenhum efeito. Estes resultados podem ser interpretados como consequência do efeito "igualador" que três espécies de formigas Myrmicinae (Pheidole spp.) tiveram sobre a remoção das sementes das fezes. Estas espécies foram responsáveis pela maior parte das interações formiga-semente observadas (77 % no sub-bosque e nas clareiras) e estão entre as mais abundantes formigas do chão da floresta tanto no sub-bosque quanto nas clareiras. Concluindo, interações entre formigas e diásporos não-mirmecocóricos encontrados no chão da floresta são comuns, especialmente em matas úmidas de baixada que combinam grande abundância de formigas com disponibilidade anual de diásporos. O tamanho e conteúdo lipídico dos diásporos são fatores determinantes para o resultado destas interações. Devido a grande abundância de formigas em florestas neotropicais, e a flexibilidade que algumas delas apresentam em relação ao gradiente microclimático que exploram, a remoção de sementes das fezes de vertebrados frugívoros é menos afetada pelas diferenças nas condições microclimáticas entre sub-bosque e clareiras do que pela espécie de semente envolvida

ASSUNTO(S)

sementes - disseminação mata atlantica

Documentos Relacionados