Indefinido, anafora e construção textual da referencia

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

Nesta tese procuramos refletir sobre as ocorrencia anaforicas de expressoes nominais indefinidas, tentando, por um lado, entender melhor o emprego do artigo indefinido (um) e, por outro, investigar estas ocorrencias a luz de seu processamento psicolinguistico. Partimos da perspectiva teorica da lingua como ação conjunta e como um fenomeno, a um so tempo, social e cognitivo. Nesta perspectiva, a referencia e vista como um processo realizado na interação. As ocorrencias anaforicas de expressoes nominais indefinidas nao foram normalmente previstas nas teorias semanticas sobre o indefinido, que em geral preconizam que este pode, apenas, servir como introdutor de referentes. No entanto, a existencia dos indefinidos anaforicos foi apontada por alguns autores (como Koch e Schwarz). Neste trabalho, levantamos e analisamos um pequeno corpus de ocorencias de indefinidos anaforicos. Contrariamente ao que tradicionalmente tem sido dito nas tradiçõess semanticas, o indefinido pode funcionar como anaforico em duas situação especificas. Em primeiro lugar, quando a relação anaforica expressa e do tipo parte-todo, que vai incluir ocorrencias partitivas e espeficadoras. O segundo tipo de anafora com indefinido acontece quando a ou frase que contem a expressao nominal indefinida nao apresenta nenhum verbo finito que expresse um evento diferente do evento no qual o antecedente tenha sido introduzido, ou quando este verbo finito aparece em orações relativas. Existe, portanto, uma relação entre o verbo e o estabelecimento dos referentes das expressoes nominais indefinidas. Para juntar evidencia de natureza psicolinguistica a esta hip´otese realizamos dois experimentos. O primeiro consistiu em um teste de aceitação de pares de sentença que variavam quanto a ter uma expressao nominal definida ou indefinida seguida ou nao por um verbo finito. O teste mostrou que, insistentemente, a introdução do verbo finito implicava no estabelecimento de um novo referente, enquanto a ausencia desse verbo (ou sua presen¸ca numa oração relativa) levavam `a leitura de manutenção referencial. Em seguida, os mesmos pares de sentença foram utilizados para a realização de um teste que media os tempos de leitura das expressoes da sentença. Esse segundo experimento revelou um tempo de leitura do verbo da segunda sentença significativamente mais longo quando este seguia uma expressao nominal indefinida do que quando seguia uma expressao nominal definida. Isto parece confirma que a leitura do verbo exige um trabalho cognitivo extra nesta situação presumivelmente o trabalho de estabelecer um referente novo. Esta conclusao tem implicações para os modelos cognitivos do processamento de expressoes referenciais, indicando que a interpretação destas expressoes acontece de forma distribuida ao longo do texto, o que traz evidencia psicolinguistica para a possibilidade de um processo de referenciação como uma construção na dinamica textual.

ASSUNTO(S)

semantica psicolinguistica texto cognição

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