IMPLICAÇÕES DA CULTURA DE PARTICIPAÇÃO DO TRABALHO COOPERADO DOS SEM-TERRA ASSENTADOS NA GESTÃO DA ESCOLA: a gestão escolar como reflexo da realidade / CULTURE IMPLICATION OF WORK PARTICIPATION WITH LANDLESS SETTLED IN THE SCHOOL MANAGEMENT: the school management as the reality reflection

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Tendo como referência uma escola pública de ensino fundamental e médio do Estado do Rio Grande do Sul, localizada em assentamento proposto pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, este trabalho tem como objetivo principal analisar a gestão da escola em questão, observando suas ligações e interações com a forma de trabalho desenvolvido pelos sem-terra. Partindo da idéia de totalidade (KOSÍK, 2002), consideramos a escola como uma totalidade que se relaciona com outras totalidades, como o Estado, cuja gestão escolar é compreendida como um reflexo da totalidade que a cerca, tanto para atender as necessidades dos trabalhadores, quanto aos interesses do capital. Nesta base teórica, analisamos a gestão escolar no contexto das relações políticas, enfocando especialmente a cultura da participação, a questão da democracia na estrutura capitalista e sua relação com a organização do trabalho dos sem-terra, que, muitas vezes, manifesta-se em forma cooperada, como é o caso das associações. Nesse contexto, compreendemos a dinâmica do capital e a forma como o Estado mantém as relações sociais hegemônicas, sendo a crise da escola um instrumento para as novas formas de exploração. Desta forma, identificamos a gestão democrática escolar como aparente a partir da análise dos modelos de produção fordista/taylorista e sua substituição pelo toyotismo, considerando a influência da administração empresarial na organização escolar. Guardadas as devidas especificidades de cada totalidade, o trabalho cooperado dos sem-terra apresenta-se como alternativa ao modelo vigente, apresentando características que se relacionam com a gestão escolar de modo a torná-la numa perspectiva participativa. O materialismo histórico ofereceu a base teórica para a análise da realidade investigada. Em termos metodológicos, através da observação participante analisamos as características da gestão da escola do assentamento objeto da pesquisa. Observamos o cotidiano da escola e das famílias, desde as conversas informais até os eventos em sala de aula, bem como realizamos entrevistas semi-estruturadas com os professores, funcionários, alunos e pais. Os resultados a que chegamos demonstram que o trabalho cooperado dos sem-terra organiza as práticas sociais surgidas em suas relações coletivas e, mesmo assumindo uma forma institucionalizada (associação), atende os interesses dos trabalhadores em desobediência à coerção do Estado, que tendem a burocratizar e hierarquizar o trabalho. No entanto, quando o trabalho dos sem-terra assume as formas sociais de produção e comercialização capitalistas, a gestão escolar, que tende a desenvolver concepções voltadas aos interesses dos trabalhadores, por reflexo da falta de participação dos sem-terra, entrega-se a conformidade do Estado. Assim, quando existe a forma individual e coletiva de trabalho no assentamento, a escola concede espaço a burocracia e a centralização de tarefas, conservando as práticas pedagógicas com princípios reflexivos da realidade objetiva, a qual, na prática, apresenta-se de forma parcial. Isso corresponde à conseqüente relação que a sociedade exerce sobre a escola indicando que quanto mais participação há nas práticas de organização dos sem-terra, através do trabalho cooperado, maior é o reflexo destas práticas na gestão administrativo-pedagógico da escola.

ASSUNTO(S)

estado cooperation gestão escolar landless movement state mst democracia cooperação school management democracy educacao

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