Homens e reprodução : mudanças e permanecias em um grupo de homens de camadas medias de São Paulo

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

Esta tese procura contribuir para o conhecimento da relação dos homens com a sexualidade e a reprodução, da perspectiva de gênero. É um esforço que se coloca ao lado das pesquisas que buscam compensar o tratamento de atores secundários e problemáticos dado aos homens nos estudos de fecundidade. Nesse sentido, a tese dialoga com os estudos de gênero, no campo das ciências sociais, que têm focalizado homens e masculinidades. A pesquisa está baseada em uma leitura interpretativa dos discursos sobre a sexualidade e a reprodução de um grupo de 30 homens, com idade entre 25 e 55 anos, de camadas médias da cidade de São Paulo. Esses homens têm como experiência comum o fato de terem refletido, no âmbito de grupos terapêuticos de gênero, sobre sua identidade masculina e sobre as transformações nas relações de gênero. A tese investiga nesse grupo a articulação entre as dimensões da sexualidade e da reprodução e a construção de masculinidades. A pesquisa revelou que, se a grande maioria desses homens herdou de seus pais os valores hegemônicos da masculinidade, suas experiências de vida os levaram à reconfiguração daquele modelo e à opção por comportamentos e atitudes bastante variáveis, dentro de limites definidos por cada um. Os valores predominantes da masculinidade e da feminilidade estão sendo avaliados e as fronteiras entre os gêneros sendo questionadas. Os dados sobre o impacto dessas reconfigurações na relação dos informantes com a contracepção não confirmam os pressupostos mais difundidos dos estudos de fecundidade sobre os homens. A maioria dos homens tem amplo conhecimento sobre métodos contraceptivos tradicionais e modernos. Responsabilizam-se pelo controle da fecundidade, juntamente com suas parceiras. A maioria utiliza a camisinha como o método que hoje melhor atende às necessidades contraceptivas e de prevenção de DSTs! Aids. É possível afirmar que os informantes compartilham de um mesmo código ético, apregoando o princípio da igualdade nas relações entre homens e mulheres, a indistinção valorativa das diferenças biológicas, e a necessidade do comprometimento de ambos, homens e mulheres, no domínio público e privado. Entretanto, o processo de reconstrução das masculinidades não é fácil, gera conflitos, desconfortos e ambigüidades. O investimento psíquico e emocional de cada um deles nesse processo deu-se ao longo das suas trajetórias de vida, nas suas relações e negociação com as mulheres e com outros homens. A identidade de gênero, portanto, não é vista como fixa, muito embora a sua mobilidade não necessariamente indique que a aquisição de novos valores desbanque completamente os antigos. Ao contrário, as ambigüidades surgem justamente porque valores novos e antigos convivem juntos numa mesma subjetividade, e portanto causam conflitos que esses sujeitos tentam superar em sua reflexão e práticas

ASSUNTO(S)

paternidade - são paulo (estado) homens - são paulo (estado) anticoncepção - são paulo (estado) fecundidade reprodução humana

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