Habitus docente e representação social do ensinar Geografia na Educação Básica de Teresina - Piauí

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A literatura sobre o ensino da Geografia tem mostrado que a maioria dos(as) professores(as) dessa disciplina continuam orientando suas práticas de ensino com base nos fundamentos da Geografia tradicional, cuja característica principal consiste na descrição dos lugares. A incorporação de modelos científicos modificadores de antigos princípios e conceitos não vem acontecendo senão de modo pontual. A superação da Geografia tradicional, no tocante a aspectos hegemonicamente aceitos pelo campo científico, ainda não aconteceu no Brasil, não só devido a certos obstáculos objetivos, como tem sido apontado pela literatura, mas, também, por obstáculos simbólicos, os quais impedem a incorporação do novo, do não habitual. Um desses obstáculos e que motivou a realização desta pesquisa são as representações sociais, aqui teoricamente estudadas na perspectiva desenvolvida por Serge Moscovici. Partindo-se desse pressuposto, o foco deste trabalho de tese concentrou-se na apreensão do conteúdo e estrutura da representação social do ensinar geografia e sua relação com o habitus que dá forma e visibilidade social ao ser professor dessa disciplina na cidade de Teresina. Para tanto, buscou-se apoio na praxiologia de Pierre Bourdieu, particularmente nos conceitos de campo social, habitus e capital, e na teoria das representações sociais, especificamente na abordagem do núcleo central desenvolvida por Jean-Claude Abric e Jean-Claude Flament. A hipótese inicial destacava a existência de um habitus primário do geógrafo, construído ao longo do processo de formação do campo da ciência geográfica no Brasil, como base da produção de uma representação social do ensinar geografia. Essa representação, por sua vez, atuaria como obstáculo simbólico à incorporação dos novos conteúdos científicos e práticas pedagógicas, os quais exigem do docente postura investigativa e problematizadora diante da realidade e dos conteúdos abordados em sala de aula. Essa hipótese inicial balizou-se na proposta teórica que vem sendo desenvolvida por Domingos Sobrinho (1997), segundo a qual existe uma estreita relação entre habitus e representação social. A pesquisa foi desenvolvida junto aos(a) professores(as) de Geografia das escolas públicas de Teresina (PI). A metodologia envolveu a utilização de um questionário, a técnica de associação livre de palavras e entrevistas aprofundadas. Os resultados obtidos revelaram a existência de um complexo processo de construção representacional e sua articulação com um habitus produzido pela síntese de múltiplos referentes situacionais e culturais, dentre os quais destacamos a inserção num campo social de práticas exclusivamente voltadas para o ensino e a reprodução de um habitus professoral (SILVA, 2003), construído ao longo do processo de formação escolar, ao qual esses professores e professoras foram submetidos. A hipótese inicial que considerava a reprodução local de um habitus primário da Geografia foi negada, porquanto constatou-se não haver, em Teresina, a produção/reprodução das estruturas, normas e práticas do campo científico nacional, no qual essa disciplina está inserida. Por conseguinte, a incorporação dos novos padrões do conhecimento científico geográfico é dificultada pela inexistência de um habitus científico, isto é, sistemas de esquemas mentais que permitiriam ao professorado em questão relacionar-se adequadamente com a ciência e suas práticas. Dessa forma, tem-se uma representação social do ensinar geografia pautada em conteúdos estreitamente relacionados à reprodução de estruturas, esquemas mentais, do campo educacional ao qual vinculam-se práticas pedagógicas hegemônicas no âmbito nacional

ASSUNTO(S)

ensino representação social geografia educacao habitus

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