Fatores de risco de leishmaniose cutânea em duas populações humanas da Amazônia Central

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

09/06/2010

RESUMO

A freqüência de homens apresentando casos clínicos de leishmaniose cutânea (LC) é maior do que mulheres. Estas diferenças na freqüência de manifestação clínica entre gêneros pode se dever à exposição diferencial entre homens e mulheres aos fatores de risco relacionados à transmissão de LC ou à vulnerabilidade diferencial a infecções parasitárias, possivelmente mediada por hormônios ligados ao sexo. No presente estudo, foi investigado se a incidência de LC se mantém diferente entre os gêneros, ainda que controlada a exposição diferencial entre homens e mulheres aos fatores de risco relacionados à transmissão da doença. Devido ao complexo ciclo de transmissão da LC, para prever a incidência da doença em populações humanas, foram consideradas características ambientais relacionadas com a adequação de hábitat para a ocorrência dos flebotomíneos, principais vetores de LC. Foram comparados dados clínico-epidemiológicos sobre a LC em duas populações humanas com exposição diferencial aos hábitats dos vetores de LC: os assentados rurais em uma paisagem tipicamente rural inserida em um ambiente de floresta tropical (N = 646 pessoas em 225 domicílios) e os pesquisadores que conduzem trabalho de campo em áreas de floresta na Amazônia Central (N = 166). Dentre os assentados rurais a exposição aos hábitats do vetor de LC é maior em homens que em mulheres. Contrariamente, pesquisadores de campo usualmente não apresentam diferenças de exposição entre gêneros, sendo que homens e mulheres são similarmente expostos aos ambientes de ocorrência de flebotomíneos. Foi utilizada uma combinação de questionários e dados clínicos para quantificar casos LC. Utilizando métodos Bayesianos, foi modelada a incidência de LC, em função de co-variáveis relativas a fatores de risco individuais (sexo e exposição a ambientes de ocorrência de vetores) e a fatores de risco ambientais (proporção de floresta e drenagem do solo ao redor dos domicílios dos assentados rurais). Casos clínicos de LC foram mais freqüentemente observados entre os homens, tanto no assentamento rural (7% vs. 1,4%), como na população de pesquisadores de campo do PDBFF, na qual as mulheres apresentaram LC em menor freqüência do que os homens (4,8% vs.11,4%). A diferença entre o número de casos reportados entre os gêneros ocorreu no PDBFF, ainda que nesta população ambos os gêneros fossem similarmente expostos ao ambiente de ocorrência de vetores da doença. Comparando-se as duas populações como um todo, a incidência de LC foi maior entre pesquisadores de campo que entre assentados rurais. A proporção de floresta em torno dos domicílios apresentou um efeito negativo, porém não tão relevante na incidência de leishmaniose cutânea quanto a drenagem do solo. Solos bem drenados no entorno dos domicílios do assentamento rural aumentaram o risco de ocorrência de LC. Foi evidenciado que a incidência de LC tende a uma maior freqüência de casos clínicos em homens que em mulheres, mesmo quando a exposição aos hábitats dos vetores da doença é equivalente, o que sugere um papel importante de fatores fisiológicos relacionados ao gênero na epidemiologia clínica de LC na Amazônia Central. A menor incidência entre os assentados rurais pode estar relacionada ao gênero, independente da imunidade parcial possivelmente adquirida devido à exposição em longo prazo às picadas dos vetores. A associação da ocorrência de casos clínicos de LC com a drenagem do solo sugere um alvo potencial para o mapeamento de áreas de risco da doença.

ASSUNTO(S)

leishmaniose cutânea flebotomíneos ecologia de doenças infecciosas epidemiologia pardo, rio epidemiologia

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