Estudo dos traços de personalidade de pacientes com fibromialgia através do Inventário de Temperamento e Caráter de  Cloninger / Personality traits in fibromyalgia patients using the Temperament and Character Inventory of Cloninger

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

INTRODUÇÃO: Fibromialgia tem sido considerada uma síndrome, na qual a etiologia e etiopatogenia ainda permanecem pouco esclarecidas. Transtornos depressivos e ansiosos são altamente prevalentes nesses pacientes, entretanto, em relação aos aspectos da personalidade, os dados de literatura são pouco homogêneos. Poucos estudos têm investigado a relevância de fatores emocionais, incluindo aspectos da personalidade, como preditores para intensidade da dor em fibromialgia. Cloninger desenvolveu uma teoria da personalidade integrando os aspectos biológicos e psicológicos, estruturando o Inventário de Temperamento e Caráter para investigar quatro traços de temperamento (esquiva ao dano, busca de novidades, dependência de gratificação e persistência) e três traços de caráter (auto-direcionamento, cooperatividade e auto-transcendência). Estudos sugerem que o Inventário de Temperamento e Caráter possui valor preditivo, assim alterações nos traços esquiva ao dano e autodirecionamento poderiam predizer vulnerabilidade para alguns transtornos. Este estudo teve como objetivo principal investigar o valor preditivo do fator esquiva ao dano para intensidade da dor em pacientes com fibromialgia após o período de um ano a um ano e seis meses (T2) da primeira avaliação (T1). Os objetivos secundários deste estudo foram: comparar os escores de esquiva ao dano e os demais traços do Inventário de Temperamento e Caráter entre mulheres com fibromialgia e um grupo controle de mulheres sem a doença. Considerando apenas o grupo de pacientes com fibromialgia, o estudo investigou diferenças nos traços do Inventário de Temperamento e Caráter entre as pacientes com depressão maior atual e pacientes sem depressão maior atual. MÉTODOS: O estudo foi desenvolvido entre abril de 2006 e setembro de 2009 em duas etapas: transversal e prospectiva. Na etapa transversal, 78 mulheres foram comparadas no fator esquiva ao dano com 78 mulheres do grupo controle. Os dois grupos foram avaliados em suas características sócio-demográficas e clínicas, sintomatologia depressiva (Inventário de depressão de Beck e HAM-D) e ansiosa (IDATEestado e HAM-A) e diagnóstico de transtornos mentais (M.I.N.I.). O grupo de pacientes também foi avaliado em relação à intensidade da dor e tempo de fibromialgia. Na etapa prospectiva, 42 pacientes foram reavaliadas em suas características clínicas e sócio-demográficas, intensidade da dor, diagnóstico de depressão maior atual e sintomas depressivos e ansiosos. RESULTADOS: Na comparação dos escores do fator esquiva ao dano, as pacientes apresentaram maior média que o grupo controle, e após análise covariância essa diferença foi explicada pela sintomatologia depressiva e ansiosa. Em relação aos outros traços de personalidade, as pacientes apresentaram maiores médias no fator auto-transcendência e menores médias nos fatores busca de novidades, dependência de gratificação, auto-direcionamento e cooperatividade quando comparadas com o grupo controle. Essas diferenças, após análise de covariância, se associaram com sintomas depressivos e ansiosos. Entretanto, as pacientes com fibromialgia mantiveram menores escores no fator busca de novidades mesmo com o ajuste para a sintomatologia depressiva e ansiosa. No grupo de pacientes, o fator esquiva ao dano não se correlacionou com intensidade da dor e tempo de doença. As pacientes com fibromialgia e depressão maior atual apresentaram maiores escores em esquiva ao dano, e menores escores em auto-direcionamento e cooperatividade quando comparadas com as pacientes sem depressão. Na etapa prospectiva, o fator esquiva ao dano não apresentou valor preditivo para intensidade ou variação da dor. Além disso, nenhum dos outros traços de personalidade se correlacionou com a intensidade ou com a variação da dor de T1 para T2. CONCLUSÕES: Os resultados deste estudo indicam que embora pacientes com fibromialgia apresentem maior pontuação no fator esquiva ao dano do Inventário de Temperamento e Caráter quando comparadas com mulheres sem a doença, essa diferença se deve a maior intensidade de sintomas depressivos e ansiosos nas pacientes e não à presença da fibromialgia em si. As diferenças encontradas nos traços de personalidade entre as pacientes com depressão e pacientes sem depressão sugerem que a depressão nessas pacientes possui, em parte, semelhanças com transtorno depressivo maior (depressão primária). Em relação à etapa prospectiva, os resultados indicam que o fator de temperamento esquiva ao dano não apresenta valor preditivo para intensidade da dor ou para variação da dor em mulheres com fibromialgia

ASSUNTO(S)

fibromialgia anxiety and personality inventory fibromyalgia personality dor depressão pain personalidade ansiedade e inventário de personalidade depression

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