Estigma e cosmopolitismo na constituição de uma música popular urbana de periferia : etnografia da produção do tecnobrega em Belém do Pará

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

Esta pesquisa etnográfica focaliza a produção do tecnobrega, uma modalidade de música eletrônica considerada de "mau gosto" estético, associada às periferias da cidade de Belém (Capital do Pará, no norte do Brasil) e a indivíduos/grupos sociais pertencentes a esses espaços urbanos. Consiste basicamente no resultado de manipulações computacionais de timbres, ritmos e melodias realizadas em estúdios por produtores musicais, ainda que o tecnobrega não se encontre relacionado exclusivamente à síntese digital sonora. O seu surgimento/assentamento local, nos anos 2000, remonta o estabelecimento do brega no Brasil, a partir da década de 1960, como um tipo de música alçada ao plano do "povo" através de um discurso midiático nacional de distinção sociocultural concebido no seio das classes médias urbanas emergentes. Igualmente ao brega, o tecnobrega (uma techno-versão do brega, pelo que o próprio nome sugere) também se destaca como música estigmatizada, tanto quanto personagens ligados ao universo da produção musical local carregam o estigma de ser "brega". Por outro lado, produtores, cantores, compositores, entre outros atores sociais que integram a cena musical brega de Belém do Pará se servem da condição de estigmatizados para erigir o tecnobrega como música de resistência, ao mesmo tempo (e ambiguamente) contestando a cultura "dominante" e nela se espelhando. De dentro do campo desta música, busco nesta tese apontar e discutir a re-significação daquilo que no país se vulgarizou como música "degradada", partindo da hipótese de que o tecnobrega consiste em expressão de caráter cosmopolita, assim como a sua produção é conseqüência de um ser/agir cosmopolita refletido em comportamentos, práticas culturais/musicais e no discurso sonoro. A noção de cosmopolitismo, teorizada neste trabalho em termos de tempos e espaços entrecruzados, bem como a dupla acepção do estigma e a relativização da idéia de música de e para a periferia, são analisadas com base na observação de espaços urbanos, em "trajetórias individuais" de artistas brega, em performances e na produção musical, multimídia e tecnológica que caracteriza o tecnobrega. Cosmopolitismo e globalização, mídias e tecnologias, regionalismo e construção de identidades aparecem como questões tratadas dentro de um campo teórico amplo que intersecta a Etnomusicologia, a Sociologia e a Antropologia Social.

ASSUNTO(S)

música popular : periferia tecnobrega tecnobrega music ethnography etnografia : música cosmopolitanism música eletrônica periphery music sound system party (ies) cosmopolitismo etnomusicologia

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