Enteroparasitas em populações usuárias de diferentes sistemas de abastecimento de água em Viçosa-MG / Enteroparasites in populations utilizing different systems of water supply in Viçosa-MG

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2004

RESUMO

As doenças relacionadas com a água são importantes problemas de saúde pública no Brasil e em diversas partes do mundo. Dentre estas, destacam-se as parasitoses intestinais ou enteroparasitoses, por se associarem freqüentemente a quadros de diarréia crônica e desnutrição, acometendo, principalmente, as faixas etárias mais jovens. O presente trabalho objetivou realizar pesquisa sobre enteroparasitas no município de Viçosa em três cortes populacionais de crianças menores de sete anos de idade, buscando associar o achado positivo a fatores socioeconômicos e de saneamento local e à condições sanitárias do domicílio. Adicionalmente, os resultados positivos para protozoários intestinais foram analisados considerando a qualidade da água distribuída por diferentes sistemas de abastecimento e a presença de Giardia e Cryptosporidium em amostras de água bruta e tratada. A pesquisa de enteroparasitas, em amostras de fezes, foi realizada através da técnica de sedimentação espontânea em água, e a pesquisa de cistos de Giardia e oocistos de Cryptosporidium, em amostras de água, pela técnica de concentração por floculação com carbonato de cálcio e visualização por imunofluorescência direta (IFD). Também foi realizada pesquisa de Giardia e Cryptosporidium em amostras fecais por concentração com formalina e acetato de etila e visualização por IFD. A avaliação da qualidade da água distribuída foi realizada a partir da análise de dados secundários fornecidos pelos responsáveis pelos sistemas de abastecimento, considerando os parâmetros coliformes, turbidez e cloro residual livre. A prevalência média geral de enteroparasitas encontrada foi de 37,2% e 15,4%, 51,4% e 38,2%, para os grupos 1, 2 e 3, respectivamente. O grupo 2 apresentou 5,81 vezes mais chances de resultado positivo para enteroparasitas que o grupo 1; para o grupo 3, essa chance foi de 3,40 vezes. Os organismos identificados foram Ascaris lumbricoides (15,2%), Entamoeba coli (12,6%), Giardia lamblia (8,4%), ancilostomídeos (1,0%), Entamoeba histolytica (1,0%) e Strongyloides stercoralis (0,5%). Não foram encontradas associações estatisticamente significativas para as variáveis sexo, faixa etária, freqüenta creche ou escola, embora tenha sido observada tendência crescente da prevalência média nos grupos 2 e 3 com o aumento da idade e a maior prevalência média de protozoários entre as crianças que freqüentavam creche ou escola, além de maior prevalência média de helmintos entre as que não freqüentavam. Também não se verificou associação com variáveis de saneamento local e condições sanitárias do domicílio. A variável renda familiar esteve associada ao resultado positivo para enteroparasitas, sendo que os estratos sem renda, 1 a 3 SM e =ou<1 SM apresentaram as maiores chances de resultados positivos, 12,5, 6,11 e 5,38, respectivamente. A pesquisa de Giardia e Cryptosporidium em 103 amostras fecais, pela técnica de IFD, identificou 9,7% de amostras positivas para Giardia e nenhuma amostra positiva para Cryptosporidium. Nas amostras de água bruta foram identificadas amostras positivas nos meses de dezembro/2002 e fevereiro/2002 (11,25 e 30,0 cistos/L) para Giardia e dezembro/2002 a abril/2002 (3,75 a 20,02 oocistos/L) para Cryptosporidium. Não foram detectadas amostras positivas para protozoários na água tratada distribuída pelos sistemas de abastecimento utilizados pela população estudada. A partir da pesquisa de protozoários e da avaliação dos dados do controle da qualidade da água desses sistemas, concluiu-se que a água distribuída se apresentou adequada ao padrão de potabilidade (coliforme, turbidez e cloro residual livre) expresso na legislação brasileira (Portaria MS no 1.469/2000). Considerando a água distribuída pelos sistemas de abastecimento do município, seu papel como veículo na transmissão de protozoários intestinais parece não ter sido relevante nas condições estudadas. Outros mecanismos de transmissão (pessoa a pessoa e consumo de hortaliças contaminadas) podem, possivelmente, apresentar papel mais significativo na manutenção dos ciclos de transmissão desses agentes nessa população.

ASSUNTO(S)

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