Diferença não é deficiência: em questão a patologização do fracasso escolar

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1987

RESUMO

A partir da crítica às explicações que situam como causa do fracasso escolar das crianças das camadas populares os seu "déficits" e "patologias" diversas, a presente dissertação pretende mostrar que essas crianças, nas quais vêem-se apenas negatividades, têm um potencial rico, advindo de sua experiência de vida, e uma especificidade de pensamento diretamente ligada a sua origem de classe social. Fêz-se um "estudo de acaso" de um grupo de crianças da classe subalterna, em situação de fracasso escolar, encaminhadas a uma instuição pública especializada. As "histórias de vida"dos sujeitos pesquisados mostram as contradições entre o seu desempenho positivo nas atividades do cotidiano e o seu fracasso escolar. Entretanto, a análise da produção desses sujeitos, rejeitada na escola, ou seja, dos seu "erros" ou respostas consideradas erradas, em avaliações escolares padronizadas, mostra a construção lógica de suas respostas e a riqueza do seu pensamento. Analisaram-se também os fatores determinantes do sucesso dos sujeitos pesquisados na aprendizagem da leitura e da escrita, na instituição à qual foram encaminhados, verificando-se que esses fatores se situam muito mais no modo de organização e nas condições favoráveis do trabalho pedagógico do que em métodos diferentes e especializados, como se pressupunha. Conclui-se que, para vencer o fracasso escolar, o processo de ensino-aprendizagem deve apoiar-se nas formas de pensamento das crianças das camadas populares, cujo pressuposto epistemólogico concebe o "fazer"como fonte do "saber"; entretanto, o processo de ensino-aprendizagem assim concebido só se poderá concretizar se se alterarem as formas de organização e as condições de trabalho pedagógico que estruturam a escola e que não permitem um maior aproximação e um melhor conhecimento dessas crianças.

ASSUNTO(S)

educação teses fracasso escolar psicologia educacional

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