Desenvolvimento e validação da sexta versão da Addiction Severity Index (ASI6) para o Brasil e outras análises em uma amostra multicêntrica de usuários de drogas que buscam tratamento no país

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Conforme revisão da literatura, existem poucos instrumentos de pesquisa no Brasil que avaliam de forma mais ampla os problemas relacionados ao álcool e outras drogas. Neste contexto, a sexta versão do Addiction Severity Index (ASI6) foi escolhida para ser validada no Brasil. Trata-se de uma entrevista semi-estruturada que foi planejada de forma multidimensional para obter informações sobre os problemas de abuso de substância e outros aspectos da vida como: médico, ocupacional, aspectos legais, sócio-familiar e psiquiátrico. Essa tese descreve na sua introdução as modificações dessa versão do instrumento, que foi desenvolvida para aprimorar seu conteúdo e corrigir as principais limitações das versões anteriores. A tese contém 5 manuscritos e teve como objetivos principais: adaptar a escala traduzida como Escala de Gravidade de Dependência (ASI6) para a cultura brasileira (carta ao editor anexada), apresentar o instrumento através de um caso clínico (artigo 1), além de testar algumas de suas propriedades psicométricas em uma população clínica (artigo 2). Para isso, um estudo transversal multicêntrico foi conduzido em 4 capitais de estados brasileiros, e as características da amostra foram descritas (artigo 3) e comparadas entre os cinco centros de pesquisa que coordenaram o estudo. Foram entrevistados por cinco centros de pesquisa 150 pacientes adultos internados ou em tratamento ambulatorial que buscaram tratamento em centros especializados em dependência química. Um total de 740 abusadores ou dependentes de substâncias foi selecionado. A qualidade dos dados coletados foi assegurada pelo treinamento e supervisão dos entrevistadores. A maioria dos pacientes entrevistados era do sexo masculino (78%) e a média de idade foi de 36 anos, e as drogas mais consumidas nos últimos 30 dias foram: álcool (82%), cocaína/crack (51%) e maconha (41%). No geral, não houve grandes diferenças significativas entre os centros no que tange aos escores de gravidade do ASI6. Na análise psicométrica, a maioria das áreas da ASI demonstrou boa confiabilidade, sem diferenças estatisticamente significativas entre os Escores Sumários de Funcionamento Recente (SS-Rs) da ASI-6 no teste-reteste e entre entrevistadores. O alfa de Cronbach para as subescalas da ASI-6 variou de 0,64 a 0,95. Correlações entre os escores da área Álcool e Drogas da ASI-6 e o instrumento concorrente (ASSIST) foram altas (0,72 e 0,89, respectivamente). Encontrou-se também uma correlação negativa, estatisticamente significativa entre os escores nas áreas psiquiátrica, médica e drogas, e os escores da WHOQOL. Esses primeiros resultados apontam para uma boa confiabilidade e validade da Escala de Gravidade de Dependência para a cultura brasileira. Além dos aspectos acima mencionados, a tese também inclui outras análises relacionadas a essa amostra na forma de artigos científicos. O primeiro deles (artigo 4), compara 293 usuários de crack com 126 usuários de cocaína e 324 pacientes que apresentaram uso de álcool e outras drogas, e demonstrou que o grupo de usuários de crack apresentou mais indivíduos (25%) com personalidade antissocial do que usuários de cocaína (9%) e usuários de outras drogas (9%), mesmo depois de ajuste para idade e gênero, com uma Razão de Prevalência de 2,6 (IC 95%: 1,10-6,40). Através dos escores de gravidade do ASI, os usuários de crack também demonstraram significativamente mais problemas ocupacionais, familiares e legais, principalmente devido ao envolvimento em atividades ilegais como tráfico de drogas e outros crimes, quando comparados a outros usuários de substâncias psicoativas. Por fim, um outro estudo (artigo 5) avaliou a qualidade de vida (QV), através do WHOQOL-BREF, de 174 sujeitos que consideraram o álcool como causador de sérios problemas em suas vidas e os fez buscar tratamento especializado para esse problema. Quando comparados os SS-Rs entre tercis de gravidade de problemas de álcool, encontraram-se diferenças significativas (p=0,002) nos domínios físicos e psicológicos que eram mais baixos no grupo com mais problemas relacionados ao álcool. Além disso, o aumento da gravidade dos problemas desses pacientes, especialmente nas áreas médica e psiquiátrica, avaliados pelos SS-Rs do ASI6 também apresentou uma correlação negativa com os escores do WHOQOL-BREF. Através dos achados dessa tese, conclui-se que o ASI6 poderá ser incorporado ao arsenal diagnóstico de pacientes usuários de drogas que buscam tratamento, a fim de auxiliar a avaliar a sua problemática, e melhorar as estratégias de abordagem e intervenção relacionadas às necessidades específicas dessa população. Sem dúvida, serão necessários novos estudos de avaliação psicométrica com outras amostras de consumidores de substâncias psicoativas. Os resultados da tese também sugerem que os usuários de crack devem ser melhor avaliados com o ASI6 ou com outros instrumentos que abordam sintomas psiquiátricos, especialmente quanto a comportamentos antissociais, que provavelmente estão relacionados aos inúmeros problemas legais, familiares e sociais dessa população. Ademais, os achados finais indicam que alcoolistas que buscam tratamento devem ser avaliados quanto aos seus sintomas psiquiátricos e que a diminuição da gravidade dos problemas relacionados ao álcool poderá melhorar a qualidade de vida psicológica desses pacientes.

ASSUNTO(S)

evaluation alcoolismo transtornos relacionados ao uso de álcool instrument avaliação asi scale estudos de validação validation substance abuse cultural diversity

Documentos Relacionados