Desenvolvimento da identidade de gênero em casos de intersexualidade: contribuições da psicologia

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

O estudo da intersexualidade, nos últimos anos, vem despertando interesse de profissionais em diferentes áreas de conhecimento. Imbuídos do propósito de compreender a temática para direcionar propostas de manejo clínico mais adequadas, profissionais envolvidos tanto na assistência, quanto na pesquisa e ensino têm ressaltado a importância de focalizar o desenvolvimento da identidade de gênero e o desempenho do papel de gênero nos casos de intersexualidade. Contudo, tais iniciativas ainda geram diferentes posicionamentos teóricos, metodológicos e práticos, os quais contribuem para o avanço na compreensão do fenômeno, ao destacarem a premência de discuti-lo sob enfoque interdisciplinar. Nesse sentido, a Psicologia tem sido chamada a colaborar por meio do conhecimento de suas distintas subáreas. Inicialmente, a análise a partir da Psicologia do Desenvolvimento, da Psicologia do Gênero e da Psicologia da Saúde indica que a complexidade em torno da intersexualidade deve ser analisada ao longo do ciclo vital, de acordo com o contexto sócio-histórico-cultural apresentado, atentando para a participação ativa do sujeito intersexual no processo decisório quanto ao seu tratamento e a qualidade de vida diante de suas escolhas. O presente trabalho teve como objetivo compreender a evolução da identidade de gênero de jovens sujeitos, por meio da comparação de dois momentos no ciclo de vida: infância e pré-adolescência. Especificamente, objetivou-se comparar a percepção atual de indivíduos intersexuais pré-adolescentes e de suas respectivas mães sobre identidade de gênero, desempenho do papel de gênero, percepção corporal e socialização, com os resultados evidenciados em Santos (2000). Ou seja, comparar tais variáveis em diferentes fases do desenvolvimento, em particular na fase de transição para a adolescência. Três participantes, com idade entre 12 e 13 anos, com diagnóstico de Pseudo-Hermafroditismo Feminino, Hermafroditismo Verdadeiro e Disgenesia Gonadal Mista compuseram a amostra. Durante visitas domiciliares, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com estes e suas respectivas mães. Os resultados indicaram que os jovens participantes, independentemente de estarem ou não satisfeitos com seu corpo/genitália, apresentam tendência a estabelecer identidade de gênero compatível com o sexo designado, sendo coerente entre si a forma como se definem (ou se identificam, enquanto menino ou menina) e como se apresentam aos outros em termos de comportamento. No momento atual, a percepção parental e do jovem sujeito são convergentes em relação à socialização, percepção corporal, identidade e papel de gênero. A vivência intersexual, conforme revelada pelos jovens e suas respectivas mães, sugerem pontos relevantes para elaboração de programas de atendimento ao intersexual. Considerações são feitas sobre um modelo de manejo clínico que inclua trabalho integrado em equipe, visando à elaboração de proposta de ação para saúde pública na área da intersexualidade.

ASSUNTO(S)

psicologia identidade de gênero gender role gender identity development hermafroditismo hermaphroditism clinical management. intersexuality intersexualidade desenvolvimento papel de gênero.

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