Decomposição foliar e macroinvertebrados aquáticos em um sistema lótico neotropical

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O aporte de material foliar em sistemas lóticos de pequeno e médio porte é responsável pela maior parte da energia e matéria que entra nesses ambientes. Esse material passa por um processo de decomposição natural, o qual é afetado por diversos fatores, como pela presença de microorganismos decompositores, macroinvertebrados fragmentadores ou devido às condições físicas e químicas da água. Porém, enquanto que em regiões temperadas os organismos retalhadores são reconhecidamente importantes para o processamento do material foliar, em regões tropicais e sub-tropicais esses organismos parecem não participar tão ativamente da decomposição foliar. Nesse trabalho, estudamos áreas influenciadas por diferentes graus de antropização, objetivando verificar a influência de atividades agrícolas na decomposição foliar, bem como a relação dos invertebrados retalhadores neste processo de decomposição. Procuramos, também, avaliar a validade do uso de índices biológicos já existentes para países da América Latina na detecção de impacto ambiental na bacia hidrográfica em estudo. Os experimentos de decomposição foram realizados na Bacia Hidrográfica Lajeado Grande, noroeste do Rio Grande do Sul. Nessa bacia hidrográfica, oito sítios amostrais foram selecionados e tiveram suas características físicas e químicas mensuradas. Em cada sítio, bolsas-de-folhiço contendo 4g de Ocotea puberula (Lauraceae) foram expostas e retiradas mensalmente até o fim da decomposição foliar. Verificou-se que constituintes físicos dos trechos amostrados, como frações da fácie areia, influenciam a decomposição foliar negativamente (p = 0,0022), enquanto que o gradiente de uso da terra analisado não demonstrou afetar a decomposição foliar (p = 0,3328). Por outro lado, a vazão, característica desse sistema de corredeiras, mostrou-se responsável pela ação de disruptura do material foliar com maior intensidade do que a ação de macroinvertebrados bentônicos. Os valores de densidade, abundância e riqueza dos macroinvertebrados fragmentadores foram afetados negativamente pela vazão da água. Esses organismos apresentaram, assim, maior abundância e densidade nos tratamentos com menor vazão d’água e com a decomposição foliar mais lenta (p = 0,0019). Estes resultados reforçam outros estudos realizados em sistemas neotropicais que atestam que a decomposição foliar nessa região sofre maior influência das variáveis físicas do que da atividade dos macroinvertebrados aquáticos, ao menos no que se refere aos invertebrados retalhadores. O uso dos organismos relacionados ao processo de decomposição foliar, na aplicabilidade de índices biológicos, também necessita de estudos mais específicos, uma vez que os índices existentes para a América Latina contemplam poucas regiões do continente.

ASSUNTO(S)

macroinvertebrados decomposição foliar biomonitoramento

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