Da repressão à abertura política : processos de espetacularização do discurso político

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A produção discursiva durante o período de ditadura militar no Brasil (1964-1985) apresentou peculiaridades que circunscrevem transformações pautadas pelo maior ou menor grau de repressão por parte do regime. É possível, assim, partir de uma divisão temporal do período em três fases, de acordo com os estudos de Gáspari (2002a, 2002b, 2003, 2004) a ditadura envergonhada, a ditadura escancarada e a abertura lenta e gradual , e observar que a partir dos dois últimos momentos há um movimento que vai da hegemonia do discurso político para o discurso midiático, evidenciando marcas que levam a transformações na ordem dos discursos, passando de um campo discursivo que privilegia o doutrinário, marcado pelo verbal, para outro que se sustenta sobre a construção de memórias e a emergência de um texto sincrético. É, portanto, sobre esses dois momentos que desenvolveremos nosso trabalho, propondo uma análise de textos de diferentes gêneros discursivos (doutrinário, memorialista, jornalístico) produzidos ora por sujeitos políticos ora por sujeitos da mídia e que revelam a passagem de uma sociedade repressiva para uma sociedade midiática bem como uma negociação por identidades produzidas pela esquerda. Para que nossa abordagem discursiva seja possível, nos fundamentamos nos pressupostos teóricos da Análise do discurso desenvolvida pelos estudos de Michel Pêcheux e seu Grupo e consolidada por trabalhos como o de Jean-Jacques Courtine, além de buscar subsídios em uma perspectiva histórica que revela o diálogo entre Michel Foucault e a Nova História. Com isso, ao resgatar a produção de sentidos desse momento da História do Brasil, nos propomos a refletir sobre a ação discursiva de sujeitos que produziram contrapalavras em uma sociedade em que certos discursos eram interditados e que, também, exprimiam as movências nas formas de resistência e as transformações inscritas no discurso político e na política. Assim, o foco de nossa investigação é compreender as transformações e movimentos que se deram em relação a concepções de esquerda, a carga semântica atribuída a este termo em diferentes épocas e a negociação por uma identidade que abarcasse os novos grupos que se formavam, na transição de uma fase de forte repressão, em que se verificava a primazia do discurso doutrinário, para uma fase de abertura política que teve como base o retorno dos relatos e grande valorização imagética pela mídia que transforma a política em espetáculo.

ASSUNTO(S)

linguística discurso político ditadura militar mídia identidade resistência espetáculo linguistica discours politique resistence média spetacle identité dictature militaire

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