Controle social e responsabilidade familiar : a administração da emergência psiquiátrica em Brasília e na Cidade do México

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

O objetivo desta tese é comparar a administração das emergências psiquiátricas em Brasília e na Cidade do México. A partir da observação do atendimento às emergências psiquiátricas em instituições de saúde e segurança, em ambas as cidades, serão analisadas a forma processual da crise familiar e/ou comunitária, as perturbações físico-morais associadas à loucura, manejadas por familiares, pacientes e agentes institucionais no âmbito do atendimento, e a resposta das instituições e sua eficácia ante a demanda por atenção. A comparação da forma processual da crise familiar indica que seu surgimento se dá em função de um evento crítico, notadamente, um comportamento agressivo, sendo que a singularidade de cada evento reside na noção do que se considera estar dentro das margens do permitido e do normal, a qual está conformada por um conjunto de crenças e práticas culturais particulares. Semelhante também é o fato de que, em todos os casos que envolviam comportamentos agressivos, as famílias e grupos comunitários acionaram uma instituição em busca de auxílio com uma demanda específica, a saber: o encaminhamento e internação do paciente em uma unidade de saúde. O exame das perturbações físico-morais associadas à loucura revela que estas têm importância fundamental, na medida em que apóiam o procedimento classificatório com base no qual familiares e agentes institucionais reconhecem aquele caso como uma emergência psiquiátrica e decidem qual será o tipo de resolução e/ou atenção prestadas a ele. Essa análise apresenta um importante contraste: a associação entre embriagues e agressividade é considerada, em Brasília, por familiares e agentes institucionais, como emergência que deve receber atendimento no âmbito da saúde; já na Cidade do México, não há essa consideração nem pelos familiares e tampouco pelos agentes institucionais. As respostas das instituições às emergências psiquiátricas são diferentes, em Brasília e na Cidade do México. Em Brasília, a resposta dada aos casos está baseada na contenção física, na internação e na extinção dos sintomas, através da intervenção química. Na Cidade do México, baseia-se na devolução do "problema" para a família, indicando que ela deve agir por seus próprios meios. Comum a ambas encontra-se o fato de que tais respostas estão diretamente relacionadas às concepções de administração da loucura e do louco que já são seculares em cada uma dessas sociedades, revelando a permanência e continuidade de determinados saberes e práticas nesse âmbito. Não seria possível analisar as respostas institucionais às emergências psiquiátricas sem mencionar o atual momento de reforma dos serviços de atenção a saúde mental, pautado pelo paradigma da desinstitucionalização. De modo que, sob este ponto de vista, mas também com base nessa continuidade de determinadas formas de administração da loucura, é possível afirmar que tais respostas institucionais são restritas

ASSUNTO(S)

saúde mental antropologia antropologia méxico brasil

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