Construções com o verbo acabar em português brasileiro / Constructions with the verb acabar in brazilian portuguese

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Neste trabalho, propomos uma análise do verbo acabar e de algumas das sentenças em que ele pode aparecer à luz de modelos formais para a análise linguística. Buscamos investigar as características sintático-semânticas dessas sentenças e procuramos identificar que tipo de estrutura sintática melhor representa sua formação. Travaglia (2004b) discute a poligramaticalização do verbo acabar e mostra que esse verbo está se gramaticalizando em sentidos diferentes. Esse autor aponta sete valores gramaticais em diferentes estágios de gramaticalização para tal verbo, além do sentido como verbo pleno. Sugerimos uma redução das oito possibilidades de interpretação de acabar sugeridas por Travaglia a cinco, pois quatro dos exemplos diferenciados por aquele autor parecem permitir uma mesma leitura. Nas sentenças que analisamos nesta dissertação, fazemos um recorte abrangendo o verbo acabar que traz uma idéia de resultado ou fase final de um evento, com uma leitura algo aconteceu e, no final das contas, a situação terminou de tal forma. Vários testes foram feitos para definir o estatuto desse verbo, como auxiliar ou como aspectualizador, porém esses testes não apontam para uma mesma direção. Observamos que acabar não apresenta um comportando uniforme, ora comportando-se como um verbo auxiliar, ora como um aspectualizador. Apesar do grande número de características que observamos para esse verbo comportando-se como um auxiliar, o consideramos como um aspectualizador (na terminologia de Wachowicz (2005, 2007)), principalmente pelo fato de operar sobre o intervalo de tempo denotado pelo verbo principal, restringindo esse intervalo para sua fase final ou para seu resultado, que é uma forte característica dos aspectualizadores, conforme Lunguinho (2005, 2009) e Wachowicz (2005, 2007). Esse verbo apresenta todas as características de alçamento perante os testes propostos por Davies &Dubinsky (2004). O verbo acabar está selecionando uma proposição em todos os exemplos em foco neste trabalho, uma small clause, e o sujeito lógico da predicação no núcleo dessa small clause alça para a posição de sujeito superficial. O verbo acabar funciona como um verbo inacusativo, selecionando apenas um argumento interno, no caso, uma SC. Ferreira (2009) prevê que um verbo inacusativo funcione como uma construção de alçamento. Essa autora considera os auxiliares como um subgrupo dos verbos inacusativos e esses, por sua vez, como um subgrupo dos verbos de alçamento. Por conta disso, prevemos que acabar esteja em uma intersecção entre os subgrupos de verbos inacusativos que selecionam uma SC, um CP, um DP e os verbos auxiliares, já que apresenta algumas características desse último. Comparamos as propriedades de acabar com algumas propriedades das passivas das línguas naturais, como discutido em Jaeggli (1986). Duas das propriedades das passivas das línguas naturais são também propriedades dos verbos inacusativos e, logo, dos verbos de alçamento: i) o NP na posição de sujeito não recebe papel-; e ii) o NP na posição de VP não recebe Caso verbal. Então, essas propriedades se verificam tanto para as passivas quanto para o verbo acabar, porém de formas um pouco diferentes. Sendo assim, essas construções podem ter uma mesma leitura, mas não a mesma estrutura sintática. É possível estabelecer uma relação entre as sentenças passivas e as estruturas de alçamento em que acabar pode ocorrer, devido ao fato de verbos auxiliares e inacusativos apresentarem propriedades de verbo de alçamento, como explicado em Ferreira (2009). Além disso, passivas podem apresentar algumas características comuns àquelas construções. Assim, obtemos uma leitura parecida para todas essas construções.

ASSUNTO(S)

aspectualizador aspectualizer auxiliar auxiliary estrutura de alçamento inacusativo passiva passive raising structure unnacusatives

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