Comunidades ribeirinhas, engenheiros e conservação da floresta: construção participativa do espaço tecnológico em empreendimentos econômicos solidários na Amazônia

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

O trabalho busca analisar a construção participativa do espaço tecnológico de um empreendimento econômico solidário de produção e comercialização de castanha da Amazônia formado por moradores de comunidades ribeirinhas do Baixo Rio Madeira, em Rondônia. A revigoração da economia extrativista constitui uma das propostas dos movimentos sociais de populações tradicionais da floresta, buscando compatibilizar a melhoria na qualidade de vida com a conservação ambiental. Contrapõe-se, assim, ao modelo de desenvolvimento baseado na intervenção tecnocrática do Estado, responsável pela instauração da crise socioambiental vivenciada atualmente na região, que tem no violento processo de desterritorialização de comunidades tradicionais, um de seus componentes mais perversos. O novo extrativismo tem duas características fundamentais para sua viabilização e que o diferenciam do extrativismo praticado durante os ciclos da borracha. Primeiramente, ele se baseia em formas democráticas de organização do trabalho, o que sugere o diálogo com o movimento da economia solidária. Além disso, propõe a melhoria da qualidade das forças produtivas por meio da incorporação de novas tecnologias, o que aponta para interação com o movimento da tecnologia social. Ao explorar as sinergias existentes entre esses movimentos contra-hegemônicos, a dissertação busca mostrar que engenheiros, tecnólogos e outros especialistas envolvidos com o desenvolvimento tecnológico podem assumir um papel importante para compatibilizar o fortalecimento das comunidades da floresta e a conservação da Amazônia. Para tanto, toma-se como referência a metodologia desenvolvida por Herrera (1981), voltada para áreas rurais, que foi adaptada para a geração e avaliação de tecnologias em empreendimentos econômicos solidários e aplicada no âmbito da produção e comercialização coletivas de castanha pelos extrativistas do Baixo Madeira. Tal método reconhece o caráter social dos sistemas racionais, demandando a participação qualificada dos produtores e tem como resultado o espaço tecnológico do empreendimento, que corresponde a uma agenda pactuada com os associados para a atuação de profissionais engajados em seu apoio. Sua aplicação junto aos produtores se mostrou eficaz, contribuindo para evidenciar que o efetivo engajamento de especialistas com a transformação social demanda disposição para dialogar com grupos cujas formas de enxergar o mundo e saberes são muitas vezes vistas como irrelevantes no processo de desenvolvimento tecnológico.

ASSUNTO(S)

amazônia engenharia de producao comunidades ribeirinhas populações tradicionais extrativismo vegetal extrativismo organização da produção extractive economy amazon rainforest tecnologias sociais traditional peoples solidarity economy economia solidária social technology

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