Como os adultos aprendem a ler?: evidências de um estudo com adultos pouco alfabetizados e crianças com a mesma habilidade de leitura

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O objetivo do presente estudo consistiu em investigar se a alfabetização de adultos é afetada pelos mesmos processos cognitivos que governam a alfabetização de crianças. Participaram do estudo 61 adultos, com idade entre 16 e 80 anos, matriculados em classes iniciais de programas de alfabetização tardia na cidade de Belo Horizonte, MG. O estudo também incluiu 61 crianças com desenvolvimento típico individualmente emparelhadas aos adultos em função da habilidade de leitura de palavras. A idade das crianças variava entre 6 e 9 anos e todas estavam matriculadas em turmas de primeira a terceira série de uma escola pública localizada na mesma cidade dos adultos. Todos os participantes foram submetidos a tarefas que avaliavam as habilidades de leitura, escrita e matemática, o conhecimento do nome das letras, a consciência fonológica, a nomeação seriada rápida, a memória verbal de curto-prazo, a inteligência verbal e a habilidade de codificação ortográfica. Os resultados sugeriram que, relativamente às crianças, adultos aprendendo a ler e a escrever em português apresentam dificuldades na segmentação dos sons que compõem a fala. Com efeito, uma análise dos erros cometidos pelos adultos e pelas crianças em uma tarefa experimental de escrita revelou que, ao contrário das crianças, a maioria dos erros cometidos pelos adultos consistiu no que Ehri (1992) tem denominado de escritas parcialmente alfabéticas ou incompletas. No entanto, a despeito dessas dificuldades, nossos resultados revelaram que adultos em processo de alfabetização são sensíveis às regras de correspondência letra-som e, tal como as crianças, baseiam-se em processos fonológicos para aprender a ler e a escrever. De fato, análises de regressão revelaram que tanto a consciência fonológica quanto a nomeação seriada rápida contribuíram significativamente para as variações na habilidade de leitura e escrita das crianças e dos adultos que participaram do presente estudo. No tocante aos correlatos da habilidade de leitura e escrita, apenas uma diferença foi encontrada entre os adultos e as crianças. Especificamente, variações na inteligência verbal não se correlacionaram com variações na habilidade de leitura e escrita entre os adultos. Por outro lado, a inteligência verbal contribuiu significativamente para as variações na habilidade de leitura e escrita das crianças, mesmo após termos controlado o efeito de diferenças individuais em habilidades importantes. Finalmente, os adultos incluídos nesse estudo apresentaram uma dificuldade expressiva na grafia de palavras contendo regularidades letra-som de natureza morfossintática, sugerindo que, além de dificuldades fonológicas, adultos com pouca escolaridade apresentam dificuldades com o componente morfossintático da linguagem.

ASSUNTO(S)

alfabetização teses. alfabetização de adultos teses. psicologia teses. psicolingüística teses.

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