Comemorar a infância, celebrar qual criança? Festejos comemorativos nas primeiras décadas republicanas
AUTOR(ES)
Veiga, Cynthia Greive, Gouvea, Maria Cristina Soares
FONTE
Educação e Pesquisa
DATA DE PUBLICAÇÃO
2000-01
RESUMO
O artigo discute aspectos dos múltiplos processos de formação da identidade do brasileiro a partir do estudo da institucionalização das comemorações da criança em Belo Horizonte. Partindo da constatação de que entre o fim do século XIX e o início do XX diferentes saberes dos campos antropológico, médico, jurídico, pedagógico e psicológico são estabelecidos com o intuito de produzir essa identidade, o trabalho focaliza três eventos realizados na cidade: o dia da criança relativo à data nacional de 12 de outubro, instituída em 1924 e fortemente identificado como uma festa escolar; as festas de Natal para as crianças pobres, nas quais a filantropia mobilizou diferentes setores da sociedade; e os concursos de robustez e beleza infantil, iniciados em Belo Horizonte a partir de 1935, com a intenção de comemorar a infância associada aos ideais eugênicos. Argumenta-se que tais eventos contribuíram para a legitimação e propagação dos saberes científicos que elegeram a criança como objeto central de estudo e intervenção. Mais do que celebrar a infância, buscou-se comemorar as ciências, com o objetivo de perseguir o ideal de uma nação civilizada e una, embora marcada por profundas clivagens sócio-raciais, e projetar a criança como utopia de um mundo adulto a ser estabelecido. O trabalho mostra nas conclusões que, hoje, traços de realização desses eventos ainda se mantêm, revelando a permanência de um ideal racial europeizado que marca pela exclusão a vivência de parte das crianças brasileiras.
ASSUNTO(S)
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