Co-produtos da extração de óleo de sementes de mamona e de girassol na alimentação de ruminantes / Co-products of castor seed and sunflower seed oil extraction in ruminant feeding

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A expectativa de crescimento gradual da participação do biodiesel na matriz energética mundial, cria necessidade de estudos sobre a utilização dos co-produtos gerados pela cadeia produtiva. Neste sentido, propõe-se avaliar os co- produtos da extração de óleo de sementes de mamona (Ricinus communis L.) e de girassol (Helianthus annuus L.) na alimentação de ruminantes, em quatro experimentos. No experimento I avaliou-se o uso do farelo (FM) ou torta de mamona (TM), tratado ou não com 40g de Ca(OH)2/kg, sobre o consumo e digestibilidade, função hepática, síntese de compostos nitrogenados microbianos no rúmen e balanço de nitrogênio em bovinos. Utilizou-se 19 ovinos sem raça definida com peso inicial médio de 56 kg, mantidos em gaiolas de metabolismo por 21 dias, sendo 16 dias de adaptação e cinco dias de coleta. Os animais foram distribuídos em cinco tratamentos referentes à fonte protéica, em 15% da matéria seca (MS) da dieta: farelo de soja, FM, FM tratado com Ca (OH)2 (FMT), TM e TM tratado com Ca(OH)2 (TMT), os quais foram arranjados num fatorial 2x2+1 (com fator adicional). O tratamento com Ca(OH)2 reduziu em 62,1 e 64,8% o teor de ricina do FM (773 mg/kg de MS) e da TM (799 mg/kg de MS). O consumo médio diário de ricina reduziu (P<0,10) com o tratamento alcalino, em média de 2,43 para 0,96 g/kg de peso corporal. Não foram observados sintomas clínicos de intoxicação por ricina e os níveis séricos de enzimas elacionados com função hepática não se alteraram, estando dentro do padrão normal da espécie. Não houve efeitos entre mamona e soja, de interações entre fonte e tratamento com Ca(OH)2 e de fonte de mamona sobre os consumos de MS e componentes da dieta, exceto para os consumos de extrato etéreo (EE), maior (P<0,10) para a TM, e de carboidratos não-fibrosos corrigidos para cinza e proteína (CNFcp), maior (P<0,10) para dieta com FS. Porém, o tratamento do FM e TM com Ca(OH)2 aumentou (P<0,10) o consumo de MS, proteína bruta e CNFcp. Não houve efeito no coeficiente de digestibilidade (CD) da dieta entre mamona e soja (exceto para CDEE, maior (P<0,10) para TM), de interação entre fonte de mamona e tratamento com Ca(OH)2 e de fonte de mamona (exceto para CDEE, maior (P<0,10) para TM). O tratamento alcalino aumentou (P<0,10) o CD de todos os componentes (exceto CDCNFcp). A síntese de compostos nitrogenados microbianos no rúmen e a eficiência de utilização dos substratos energéticos e nitrogenados (ECNi) da dieta aumentaram (P<0,10) apenas com Ca(OH)2. Apesar da excreção urinária de Nuréia ter aumentado com o Ca(OH)2, a maior (P<0,10) ECNi reduziu (P<0,10) as perda de N fecal, aumentando-se em 21,3% a retenção de N. O tratamento do FM ou TM com 40g de Ca(OH)2/kg, base da matéria natural, apesar de não desnaturar completamente a ricina, amplia a eficiência de utilização dos componentes energéticos e nitrogenados em dietas para ovinos. No experimento II avaliou-se a capacidade in vitro dos microrganismos ruminais em destoxificar a ricina do farelo de mamona (FM), bem como o efeito da desnaturação de proteínas solúveis do FM por meio de tratamento alcalino, sobre a taxa de crescimento microbiano () e a concentração média de amônia ao longo da incubação. Foram avaliadas três fontes de proteína solúvel (tripticase, extrato bruto de farelo de mamona (EBP) em estado intacto; e EBP em estado desnaturado com óxido de cálcio) em três doses de proteína (0,42; 0,84 e 1,64 g/L), em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições, em esquema fatorial 3x3. Foram coletadas amostras do meio de cultivo nos tempos 0, 3, 6, 12, 24 e 48 horas para: análise de ricina, mediante eletroforese em gel (SDS-PAGE), densitometria e dosagem de proteína total; avaliação do crescimento microbiano (DO-600 nm); e dosagem de amônia. As sub-unidades de ricina não desaparecem na ausência de inóculo ruminal, mas foram degradadas a taxas de 0,2725; 0,1504 e 0,0648h-1 com inóculo ruminal nas concentrações iniciais de 61, 122 e 243 g de ricina/mL do meio de cultivo. Estas concentrações de ricina representaram uma relação de 0,15; 0,30 e 0,60 kg de FM por litro de meio de cultivo ruminal. Houve interações (P<0,05) na taxa instantânea de crescimento microbiano () entre dose e fonte de proteína solúvel e entre dose e desnaturação do EBP de FM. Houve incremento linear (P<0,05) na com aumento na dose de tripticase, e redução (P<0,05) de forma quadrática com aumento na dose de EBP intacto de FM, sendo estimando o valor mínimo de -0,0038h-1 na , na dose de 1,444 g/L. A aumenta (P<0,05) com desnaturação do EBP de farelo de mamona, mas não é afetada pela dose de EBP de mamona em estado desnaturado. A concentração média de amônia foi menor (P<0,05) para o tratamento com EBP de FM em relação tripticase, não sendo observado efeitos de desnaturação. Os resultados indicam que apesar da microbiota ruminal ser capaz degradar a ricina, reduzindo sua ação tóxica no animal hospedeiro, a toxina inibe o crescimento microbiano ruminal. Recomenda-se a completa destoxificação do farelo de mamona para seu uso na alimentação de ruminantes. No experimento III, objetivando-se definir o método de destoxificação, avaliou-se a eficácia de destoxificação do FM por meio de tratamento alcalino (Ca(OH)2 ou CaO, nas doses de 20, 40 ou 60 g/kg, diluído ou não em água) ou térmico (autoclave com pressão de 1,23 kgf/cm2 ou 15 psi a 123oC, durante 30, 60 ou 90 minutos) e seus efeitos sobre a composição química, cinética de degradação ruminal in situ da proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), matéria seca (MS) e digestibilidade verdadeira intestinal in vitro da proteína não-degradada no rúmen (DIVPNDR). O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições. A eficácia dos tratamentos foi avaliada com base na presença das sub- unidades de ricina em gel a 15% de poliacrilamida (SDS-PAGE) em condição desnaturante, análise densitométrica e dosagem de proteína total. Observou-se teor 831g de ricina/kg de MS no FM controle. A eficácia de 100% de destoxificação com Ca (OH)2 na dose de 40 g/kg de farelo ou com autoclave em 15 psi durante 60 minutos, observada em pesquisas anteriores, não se confirmou no presente estudo. Somente os tratamentos com Ca(OH)2 ou CaO, diluídos em água (1:10), na dose de 60 g/kg de farelo, ou com autoclave (90 minutos) mostram-se eficazes (P<0,05) em destoxificar a ricina. O tratamento alcalino, independente da fonte, ou térmico reduzem (P<0,05) a taxa e a degradabilidade ruminal efetiva da PB, mas sem afetar a extensão de degradação e a DIV- PNDR. Somente o tratamento alcalino promove reduções (P<0,05) nas estimativas de repleção ruminal da fração potencialmente degradável da FDN, em razão do aumento na taxa de degradação ruminal. Estimam-se custos com aquisição do agente alcalino equivalentes a 6% do preço FOB (livre de frete e imposto) do FM comercializado como fertilizante. Os tratamentos alcalinos com Ca(OH)2 ou CaO na dose de 60g/kg de farelo, ou com 90 minutos de autoclave (1,23 kgf/cm2, 123oC) poderão permitir o uso da FM na alimentação de ruminantes, mas sua aplicação em escala industrial dependente de estudos sobre viabilidade operacional e econômica. No experimento IV avaliou-se o efeito de quatro níveis de inclusão de farelo de girassol (FG) na dieta (0, 7, 14 e 21%, base da MS) de vacas leiteiras com rodução de 30 kg/dia sobre o desempenho produtivo e a eficiência de utilização dos nutrientes. Utilizou-se 12 vacas da raça Holandesa distribuídas em três quadrados latinos 4x4. As dietas foram isonitrogenadas (16,2% de PB, base MS) contendo 55% de silagem de milho, na base da MS. O FG substituiu a mistura contendo 53,57% de farelo de soja e 47,37% de farelo de trigo, na base da MS (FS:FT). Adotou-se o teste de Williams como procedimento de comparações de médias. O FG apresentou maior valor absoluto para degradabilidade ruminal efetiva in situ da PB em relação à mistura FS:FT (68,68 vs 62,92%). Os consumos dos nutrientes não foram afetados pelo FG, exceto o de EE que reduziu (P<0,05) a partir de 7% de FG e da FDN que aumentou (P<0,05) a partir de 21% FG. Os coeficientes de digestibilidade da MS, MO e CT, e o teor NDT reduziram (P<0,05) a partir de 21% de FG. Os consumos de MS, EE, CT, CNF digestíveis, bem como o consumo de NDT reduziram (P<0,05) a partir do nível de 7% de FG. A composição do leite não foi afetada pelo FG, mas a produção de leite (PL), produção de lactose e extrato seco total reduziram (P<0,05) a partir de 21% FG. A PL corrigida para 3,5% de gordura, a produção de gordura, proteína e extrato seco desengordurado, e a eficiência de conversão do N dietético em N secretado no leite (EUNleite) reduziram (P<0,05) a partir de 14% de FG. O nível de FG não afetou a síntese de proteína microbiana ruminal (estimada por meio da excreção urinária e secreção no leite de derivados de purinas) e a eficiência de utilização dos substratos energéticos, mas reduziu (P<0,05) a ficiência de utilização do nitrogênio (N) disponível para síntese de nitrogênio microbiano (ECNd) a partir de 21% de FG. Não houve efeito sobre a excreção de N urinário. Em razão das reduções (P<0,05) na ECNd e EUNleite, a partir de 21% de FG elevou-se o valor absoluto de perdas de N na urina e nas fezes. O FG pode ser incluído em até 14% em dietas de vacas leiteiras com produção de 30 kg/dia, sem afetar a produção de leite, a composição do leite e as eficiências de utilização dos componentes nitrogenados e energéticos da dieta.

ASSUNTO(S)

avaliacao de alimentos para animais produção de leite ricin nutrição animal animal nutrition ricina milk production

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