Cirurgias vítreo-retinianas na toxoplasmose ocular

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

OBJETIVOS: Este estudo visa avaliar retrospectivamente cirurgias vitreo-retinianas realizadas em pacientes portadores de toxoplasmose ocular. Visa também avaliar especificamente: as indicações cirúrgicas; os resultados da cirurgia; e a presença de reativação ou nova lesão de retinocoroidite após a realização da cirurgia. MÉTODOS: Este estudo consistiu numa avaliação retrospectiva de 54 prontuários de pacientes acompanhados em serviço de Uveítes de Hospital Universitário que se submeteram a cirurgia vitreo-retiniana devido às complicações vitreo-retinianas secundárias a toxoplasmose ocular. Foram pesquisados episódios anteriores de casos de uveíte posterior por retinocoroidite supostamente toxoplásmica (RCST), cirurgias prévias oculares, tratamento clínico prévio utilizado, o tempo do início deste último episódio ativo até a cirurgia, as características da lesão de retinocoroidite (atividade, tamanho, localização e número de lesões cicatrizadas), as indicações cirúrgicas, o grau de opacidade vítrea no momento da cirurgia, as técnicas cirúrgicas empregadas, os resultados da cirurgia (sucesso anatômico, complicações, novos procedimentos realizados, e a acuidade visual final), e a presença de reativação ou nova lesão de retinocoroidite após a realização da cirurgia. Foram comparadas as variáveis na tentativa de se relacionar esta tisticamente. RESULTADOS: As características das lesões foram: seis lesões ativas (11,1%) e 48 lesões cicatrizadas (88,9%); em média de 1,46 lesões cicatrizadas por olho, variando de uma até quatro lesões; variou de 0,5 a 9 DD em tamanho, com média de 2,71 DD; e localizaram-se sete lesões em zona 1 (13%), 40 lesões em zona 2 (74,1%), uma lesão em zona 3 (1,9%), e seis lesões nas zonas 1 e 2 (11,1%). O tempo de seguimento (em meses) do paciente após a realização da cirurgia variou de seis a 67 meses, com média de 20,26. O tempo decorrido entre o início do último episódio ativo de retinocoroidite e a cirurgia (em meses) variou de 1 a 41 meses, com a média de 11,10. A graduação da vitreíte durante o último episódio ativo da retinocoroidite teve 18 olhos (36%) classificados como não-grave e 32 olhos (64%) como grave. O corticosteróide sistêmico foi utilizado por 48 pacientes (88,9%), e 47 pacientes (87%) fizeram uso de várias drogas anti-infecciosas. Sete pacientes (13%) foram operados previamente. Quatro pacientes (7,4%) tive ram episódio ativo de retinocoroidite após a cirurgia realizada e o tempo decorrido entre a cirurgia e a reativação variou de 3 a 17 meses, com média de 11,75. As indicações cirúrgicas principais foram 15 olhos (27,8%) com DRT, 13 olhos (24,1%) com OV, 12 olhos (22,2%) com xi membrana epiretiniana isolada, 10 olhos (18,5%) com DRR, dois olhos (3,7%) com hemorragia vítrea e outros dois olhos (3,7%) com buraco macular associado à membrana epiretiniana. O grau de opacidade vítrea no momento da cirurgia teve 11 olhos com 1+/4+ (20,4%), 23 com 2+/4+ (42,6%), 12 com 3+/4+ (22,2%) e oito com 4+/4+ (14,8%). A associação de vitrectomia via pars plana, membranectomia e gás intravítreo (10 olhos-18,5%) e a associação de retinopexia, vitrectomia via pars plana, endofotocoagulação e óleo de silicone (10 olhos-18,5%), foram as técnicas mais utilizadas. Apresentaram resultado anatômico favorável 46 olhos (85,2%). Foram 34 olhos (63%) que apresentaram algum tipo de complicação pós-operatória, e a catarata foi a principal complicação (56,1%). Ocorreram nove DR (22%), sendo sete redescolamentos. Foram realizados novos procedimentos em 16 olhos (29,6%) e a cirurgia de catarata foi a mais realizada (68,7%). A acuidade visual (LogMAR) prévia à primeira cirurgia variou de 0,5 a 3,0, com média de 1,956; a final variou de 0,0 a 3,0, com média de 1,606. Houve melhora da acuidade visual em 29 pacientes (53,7%), permaneceu inalterada em 12 pacientes (22,2%) e piorou em 13 pacientes (24,1%). Foram comparadas várias variáveis entre si, e não houve diferença estatisticamente significativa (p <0,05) em nenhuma das situações. CONCLUSÕES: Este estudo permitiu concluir com relação às características das lesões de RCST em olhos submetidos à cirurgia vitreo-retiniana que: as lesões de RCST tiveram em média 2,71 DD de tamanho; localizaram-se em 85,2% em zona 2; encontravam-se cicatrizadas em 88,9% dos casos; apresentaram-se em número de 1,46 lesões em média por olho. Com relação ao episódio ativo anterior à cirurgia que: o tempo decorrido entre o início do último episódio ativo de retinocoroidite e a cirurgia foi de 11,10 meses em média; a presença de vitreíte grave durante o episódio ativo de RCST esteve presente em 64% dos casos, sendo importante na persistência da opacidade vítrea e na formação de DRR e DRT; o tratamento sistêmico prévio nada acrescentou. A principal indicação cirúrgica na RCST é a associação de DRT e DRR, seguida de perto pela OV persistente e membrana epiretiniana. O grau de opacidade vítrea no momento da cirurgia em 62,9% dos olhos era de 1+/4+ e 2+/4+, mostrando a tendência de melhora da OV ao longo do tempo. Não houve relação desta variável com os resultados da cirurgia. Conclui-se com relação aos resultados da cirurgia que: obteve-se sucesso anatômico em 85,2% dos casos; foram freqüentes as complicações pós-operatórias (63%), principalmente nos casos de DRR e DRT; a catarata foi a principal complicação (56,1%). O DR foi a principal complicação vitreo-retiniana com 22%. Foram necessários novos procedimentos em 29,6% dos casos e a cirurgia de catarata foi a mais realizada (68,7%). A AV final melhorou ou permaneceu inalterada em 75,9% dos casos; as melhores AV estão nos pacientes operados de OV, membrana epiretiniana e hemorragia vítrea. Pode ocorrer reativação ou nova lesão de RCST após cirurgia vitreo-retiniana.

ASSUNTO(S)

toxoplasmose ocular/complicações decs descolamento retiniano/cirurgia decs vitrectomia decs retina/cirurgia decs hemorragia vítrea/cirurgia decs membrana epirretiniana/cirurgia decs resultado de tratamento decs

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