Características dos processos de aprendizagem de comportamentos inusitados de reclusos em uma organização prisional

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

A caracterização dos processos de aprendizagem de comportamentos inusitados de reclusos em uma organização prisional favorece a compreensão dos fenômenos ligados à aprendizagem e suas decorrências para a vida intra e extra-muros de pessoas condenadas pela Justiça. Com a finalidade de caracterizar esses processos, foram realizadas entrevistas individuais e semi-estruturadas com 20 presidiários que se destacavam, de forma sistemática e constante, na prática das seguintes atividades: religião, estudo, artes, trabalho e leituras. Os participantes eram sentenciados de um estabelecimento prisional com mais de 1.000 reclusos, situado num Estado do Sul do Brasil. A análise das verbalizações foi efetuada a partir de categorias, que visavam identificar a percepção dos entrevistados sobre os diferentes aspectos de suas aprendizagens. Foi possível constatar que a influência dos pares é marcante, seja pelo papel desempenhado no ensino das novas práticas, seja pela importância atribuída aos comentários de aprovação ou de crítica aos novos comportamentos apresentados. Algumas manifestações são controvertidas, como as que se referem ao ambiente físico, ao conjunto de normas e regras e às atuações dos funcionários. Para alguns, esses fatores são inibidores das novas práticas. Para outros, funcionam como facilitadores, o que parece evidenciar as diferenças individuais, bem como os múltiplos objetivos e identificações aos quais esses comportamentos inusitados podem estar relacionados. Para viabilizá-los e mantê-los, os sujeitos recorrem às contribuições e apoio de colegas com preocupações, objetivos e interesses em comum, com quem trocam experiências e informações, o que sugere as ações peculiares de comunidades de práticas. Além disso, para iniciar e dar continuidade ao processo, existem evidências de que são necessárias crenças pessoais e expectativas sobre as próprias capacidades de obter êxito nos empreendimentos a serem efetuados, ou seja, percepções de auto-eficácia. Entretanto, nessas aprendizagens, é provável que os sujeitos não se limitem à procura de diferentes tarefas ou de novos conhecimentos. Mais que isso, com suas mudanças de comportamentos e lutas por reconhecimento, parecem buscar também outros papéis no meio social e a confirmação das novas identidades que tentam (re)construir junto aos agrupamentos com os quais pretendem se identificar.

ASSUNTO(S)

aprendizagem - avaliação comportamento organizacional psicologia criatividade psicologia presidiários - aspectos psicológicos

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