Características de usuários de crack internados em serviços especializados de Porto Alegre

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

O uso de crack pode ocasionar inúmeros danos físicos e/ou mentais e danos sociais, muitos deles podendo ser irreversíveis. O consumo dessas drogas tem aumentado nos últimos anos, sendo considerado um problema de saúde pública. Além disso, as comorbidades psiquiátricas são comuns nos usuários de drogas. Este estudo visa contribuir com o conhecimento necessário para a criação de programas de tratamento e prevenção de uso de crack que levem em consideração as características específicas desse público.O presente trabalho é composto de três seções. A primeira seção objetivou realizar uma revisão de literatura acerca dos danos decorrentes do uso de crack, assim como verificar a maneira como os usuários lidam com os mesmos. Além disso, o estudo objetivou identificar quais aspectos são percebidos por usuários de crack como protetivos ou de risco para o uso da droga. Para efetivação desse estudo, foi realizada uma busca de referências bibliográficas nas bases de dados eletrônicas PsycInfo, PubMed (Medline) e LILACS. Os descritores utilizados na língua inglesa foram: Crack Cocaine, Behavior Addictive, Drug Users e Cognition. Os descritores utilizados na língua portuguesa foram: Cocaína Crack, Comportamento Aditivo, Usuários de Drogas e Cognição, entre os anos de 2003 e 2010. Além disso, foram selecionados alguns capítulos de livros, artigos que constavam nas referências dos trabalhos encontrados e pesquisas de centros e associações de reconhecida importância na área de dependência química. O estudo conclui que do uso do crack decorrem muitos prejuízos, os quais podem ser de ordem física e/ou mental e social. Os usuários percebem que a convivência em um ambiente familiar desarmônico, onde há abandono, indiferença, morte ou separação dos genitores, ou ainda abuso no lar e a existência de um histórico de consumo de drogas por parte da família, são fatores de risco para o envolvimento com drogas ilícitas. Além disso, se verificou que os usuários de crack se utilizam de estratégias para minimizar os danos decorrentes do uso da droga.A segunda seção objetivou: mapear dados referentes à quantidade e padrão do consumo de drogas em usuários de crack; verificar a existência de tratamentos prévios para o uso de crack; identificar aspectos do funcionamento adaptativo e psicopatológico, clinicamente significativos, em pacientes usuários da droga; e avaliar os principais déficits cognitivos dos participantes. O estudo foi transversal quantitativo e contou com uma amostra de 84 pessoas. Os instrumentos utilizados foram: Entrevista Semiestruturada (a qual foi elaborada especificamente para este estudo); Screening Cognitivo do WAIS-III (composto pelos subtestes Vocabulário, Código, Cubos e Dígitos) e Adult Self-Report ASR (para investigar dados referentes aos aspectos do funcionamento adaptativo e psicopatológico). O estudo conclui que os usuários da amostra eram predominantemente do sexo masculino, com tempo médio de 5,83 anos utilização de crack. A intensidade e tempo de uso de crack, nesta amostra, foi menor que a encontrada em outros estudos. Aproximadamente metade da amostra era pertencente a classes econômicas mais altas e a outra metade a classes econômicas mais baixas. A maioria dos participantes já havia feito tratamentos prévios para o uso de drogas. Problemas depressivos, de comportamentos internalizantes, e problemas externalizantes foram os mais prevalentes. Os usuários de crack desta amostra tiveram um pior desempenho do subteste Vocabulário, o qual avalia inteligência verbal, conhecimento semântico, estimulação do ambiente, desenvolvimento da linguagem expressiva e antecedentes educacionais.A terceira seção, trata-se de um estudo realizado em uma subamostra do estudo anterior, que teve como objetivos investigar os transtornos psiquiátricos e as dificuldades no funcionamento adaptativo, clinicamente significativos, de maior prevalência em usuários de crack; verificar se há associação entre os transtornos psiquiátricos e problemas de comportamento em usuários de crack; e verificar se há associação entre comorbidades psiquiátricas e uso de drogas em usuários de crack. Os instrumentos utilizados foram: Entrevista Semiestruturada, ASR e Entrevista Clínica Estruturada para os Transtornos do Eixo-I do DSM-IV-TR (SCID-I/P). Para análise dos dados, foram feitas análises descritivas e de associação entre variáveis (Teste Exato de Fisher, com nível de significância de 5%). O estudo contou com 21 dependentes de crack, com média de idade de 29,29 anos (DP = 8,51) e concluiu que os usuários de crack da amostra analisada apresentaram prevalências altas de transtorno psicótico e sintomas de humor induzidos por substância, transtorno por uso de álcool, depressão, problemas nas amizades, família e na média adaptativa de forma geral e problemas de comportamento, tanto internalizantes, como externalizantes.

ASSUNTO(S)

psicologia clÍnica epidemiologia dependÊncia quÍmica - tratamento drogas viciados - aspectos psicolÓgicos comportamento (psicologia) psicologia

Documentos Relacionados