Cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio em dietas para ovinos, caprinos, novilhas e vacas em lactação / Sugar cane treated with calcium oxide in diets for sheep, goats, dairy heifers and cows

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido mediante a condução de quatro experimentos, os quais geraram informações que serão apresentadas na forma de onze capítulos. Ressalta-se, inicialmente, que a cana-de-açúcar utilizada nos experimentos que serão descritos abaixo foi tratada por um período de 24 horas com doses de óxido de cálcio (CaO) de 0; 0,75; 1,5 e 2,25% (com base na matéria natural), sendo o tratamento sem adição de CaO (0%) constituído por cana-de-açúcar in natura cortada e fornecida fresca aos animais todos os dias. No primeiro capítulo avaliou-se o consumo, a digestibilidade aparente dos nutrientes e o efeito de dias de coleta total (dois e quatro dias) na estimativa da digestibilidade aparente em ovinos alimentados com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio (CaO). Objetivou-se também comparar os consumos de MS e NDT observados com os estimados pelo NRC (2006). Foram utilizados oito ovinos Santa Inês machos, castrados, com peso corporal médio de 16,6 kg, distribuídos em dois quadrados latinos 4 x 4, com quatro períodos experimentais de 14 dias. A avaliação do consumo e digestibilidade foi realizada nos quatro dias finais de cada período. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas (14% de proteína bruta), apresentaram 70% de cana-de- açúcar com 0; 0,75; 1,5 ou 2,25% de CaO, corrigida com 1% de uréia e 30% de concentrado. A cana-de-açúcar com CaO promoveu maior consumo de MS, MO, PB, FDN, FDN, FDNcp, CT, CNFcp e NDT (kg/dia) em relação à cana in natura, sendo o mesmo comportamento observado para o consumo expresso em %PV. A digestibilidade da MS e CNFcp da cana-de-açúcar com CaO foi inferior ao da canade- açúcar in natura. Houve aumento linear do consumo de MS com a adição de CaO à cana-de-açúcar. Por outro lado a digestibilidade da MS e FDN, e o teor NDT reduziram-se linearmente. Observou-se subestimação dos consumos de MS e NDT estimados pelo NRC (2006). O tratamento químico da cana-açúcar com CaO aumenta o consumo mas não melhora a digestibilidade dos nutrientes. Dois dias de coleta total de fezes são suficientes para estimar a digestibilidade aparente total em ovinos. No segundo capítulo avaliou-se o comportamento ingestivo, o balanço de nitrogênio, as concentrações de uréia na urina e no plasma e a síntese de proteína microbiana em ovinos alimentados com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com CaO. O delineamento experimental e as dietas foram semelhantes ao relatado no primeiro capítulo. Os tempos despendidos em alimentação, ruminação e ócio (min/dia) não foram afetados pela adição de CaO à cana-de-açúcar. As excreções de nitrogênio (N) nas fezes e urina aumentaram com as doses de CaO, entretanto, o N retido (g/dia) não foi afetado. As concentrações de uréia na urina e plasma (mg/dL) e as excreções diárias de uréia (g/dia) e derivados de purinas (mmol/dia) não foram alteradas pela adição de CaO. Com exceção da eficiência microbiana (g PB/kg NDT), que foi maior na cana-de-açúcar in natura, as excreções de purinas microbianas e a síntese de N e proteína microbiana não são afetadas pela adição de CaO à cana-de-açúcar, em dietas para ovinos Santa Inês. No terceiro capítulo avaliou-se o consumo, a digestibilidade aparente dos nutrientes e o efeito de dias de coleta total (dois e quatro dias) na estimativa da digestibilidade aparente em caprinos alimentados com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio (CaO). Objetivou-se também comparar os consumos de MS e NDT observados com os estimados pelo NRC (2006). Foram utilizados oito caprinos Saanen machos, castrados, com peso corporal médio de 22,6 kg, distribuídos em dois quadrados latinos 4 x 4, com quatro períodos experimentais de 14 dias. A avaliação do consumo e digestibilidade foi realizada nos quatro dias finais de cada período. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas (14% de proteína bruta), apresentaram 70% de cana-de-açúcar com 0; 0,75; 1,5 ou 2,25% de CaO corrigida com 1% de uréia e 30% de concentrado. A maioria das variáveis relacionadas com o consumo foram maiores no tratamento com cana-de-açúcar com CaO em ralação à cana in natura. O consumo de MS, MSi, MO, PB, FDNi, CT, CNFcp e NDT (kg/dia) e MS, MO e NDT (% PV) aumentaram com as doses de CaO à cana-de-açúcar. Os coeficientes de digestibilidade da MS, PB e CNFcp foram menores no tratamento com cana-deaçúcar com CaO em relação à cana in natura. Verificou-se redução linear do coeficiente de digestibilidade da FDN e efeito quadrático do EE e CNFcp. Observouse subestimação dos consumos de MS e de NDT estimados pelo NRC (2006). O uso do CaO no tratamento da cana-açúcar aumenta o consumo mas não melhora a digestibilidade dos nutrientes. Dois dias de coleta total de fezes são suficientes para estimar a digestibilidade aparente total em caprinos. No quarto capítulo avaliou-se o comportamento ingestivo, o balanço de nitrogênio, as concentrações de uréia na urina e no plasma e a síntese de proteína microbiana em caprinos alimentados com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com CaO. O delineamento e as condições experimentais foram semelhantes ao relatado no terceiro capítulo. Os tempos despendidos em alimentação, ruminação (min/dia, min/kg MS e min/kg FDN) e ócio (min/dia) não foram afetados pela adição de CaO à cana-de-açúcar. A eficiência em alimentação e ruminação do mesmo modo não foi afetada pela adição de CaO à cana-de-açúcar. Verificou- se redução (P<0,05) no tempo médio despendido por período de alimentação. O balanço de nitrogênio, as concentrações de uréia na urina e no plasma e as excreções de uréia na urina não apresentaram efeito em função das doses de CaO à cana-de-açúcar. A alantoína (% das purinas totais) foi maior (P<0,05) e o ácido úrico menor (P<0,01) nos tratamentos com cana-de-açúcar tratada com CaO em relação à cana in natura. A produção e a eficiência microbiana não são afetadas pela adição de CaO à cana-de-açúcar, em dietas para caprinos em crescimento. No quinto capítulo estudou-se o efeito de intervalos entre observações na estimativa do comportamento ingestivo em ovinos e caprinos. Os animais (capítulos 1 e 3) foram observados, 24 horas por dia, ao final de cada período experimental em intervalos de 5, 10, 15 e 20 minutos. O efeito dos intervalos entre observações sobre as variáveis comportamentais foi avaliado pelo teste de Dunnett, de forma independente aos efeitos fixos de tratamento e quadrados latinos. Tanto para ovinos como para caprinos, verificaram-se menores (P<0,05) valores para o número de períodos (no/dia), e maiores (P<0,05) para o tempo despendido por período das atividades de alimentação, ruminação é ócio nos intervalos de 10, 15 e 20 minutos. O consumo médio de MS e FDNcp por período de alimentação também apresentou-se inferior (P<0,05) nos intervalos de 10, 15 e 20 minutos em relação ao de 5 minutos. A utilização dos intervalos de 10, 15 e 20 minutos na avaliação do comportamento ingestivo em ovinos e caprinos não alteram o tempo despendido em alimentação, ruminação e ócio (P>0,05), contudo, conduzem a estimativas superestimadas de tempo médio despendido por período de atividade e estimativas subestimadas de números de períodos de alimentação, ruminação e ócio. Recomenda-se a utilização do intervalo de 5 minutos entre observações para estudos de comportamento ingestivo com ovinos e caprinos. No sexto capítulo, objetivou-se avaliar o vício de tempo longo (VTL) dos indicadores internos matéria seca indigestível (MSi) e fibra em detergente neutro (FDNi) e ácido (FDAi) indigestíveis em ovinos e caprinos. Amostras de alimentos, sobras e fezes dos animais (capítulos 1 e 3) foram submetidas à incubação ruminal in situ, durante 240 horas, para estimativa das concentrações dos indicadores. A relação entre consumo e excreção dos indicadores foi realizada pelo ajustamento de modelo de regressão linear simples, de forma independente aos efeitos fixos de tratamentos e quadrados latinos. Tanto em ovinos como em caprinos, verificou-se recuperação completa dos indicadores MSi e FDNi (P>0,05), indicando ausência de VTL para estes indicadores. Já para a FDAi, a recuperação não foi completa, verificando-se VTL de -9,12% (P<0,05) na avaliação com ovinos e -3,02% (P<0,05) na avaliação realizada com caprinos. No sétimo capítulo avaliou- se o consumo e a digestibilidade aparente dos nutrientes em novilhas alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com óxido de cálcio (CaO). Objetivou-se também avaliar e eficiência de predição do consumo de MS e do valor energético dos alimentos pelo sistema de equações do NRC (2001). Utilizaram-se 20 novilhas, mestiças, com peso corporal médio inicial de 200 kg, distribuídas em um delineamento inteiramente ao acaso, com quatro tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos foram constituídos de quatro doses de CaO (0; 0,75; 1,5 e 2,25%) utilizadas no tratamento da cana de açúcar. O período experimental foi de 21 dias, sendo o consumo e a digestibilidade avaliada nos sete dias finais. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas (14% de proteína bruta), apresentaram 71% de cana-de-açúcar com 0; 0,75; 1,5 ou 2,25% de CaO corrigida com 1% da mistura uréia e sulfato de amônio (9:1) e 29% de concentrado. Os consumos de MS, EE, FDN, FDNcp, FDNi, CT e CNFcp (kg/dia) não foram afetados pela adição do CaO à cana-de-açúcar. Os consumos de MO, FDN, FDNcp e NDT (% PV) também reduziram linearmente com as doses de CaO. As digestibilidades da MO, FDN, FDNcp, CT e CNFcp e o teor de NDT das dietas não foram afetados. Entretanto o tratamento da cana-de-açúcar com CaO provocou redução na digestibilidade da MS e PB. As equações propostas pelo NRC (2001) subestimaram os consumos de MS e NDT e de PB e CNF digestíveis e superestimaram os de FDN digestível. O tratamento da cana-açúcar com CaO não melhora o consumo e nem a digestibilidade dos nutrientes em novilhas. As equações propostas pelo NRC (2001) para estimar o consumo de MS e o valor energético de alimentos não se aplicam para as condições tropicais. No oitavo capítulo avaliou-se o comportamento ingestivo, o balanço de nitrogênio, as concentrações de uréia na urina e no plasma e a síntese de proteína microbiana em novilhas alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com CaO. O delineamento e as condições experimentais foram semelhantes ao relatado no sétimo capítulo. Houve redução linear do número de mastigações diárias (P<0,05) e do tempo total de mastigação (min/dia) (P<0,01). A eficiência de ruminação (no bolos/dia) associou-se de forma linear e negativamente com as doses de CaO. O balanço de N dos animais também foi influenciado pelas doses de CaO adicionadas à cana-de-açúcar, registrando-se redução tanto no consumo como na quantidade de N digerido e retido. O teor de N retido (% do N ingerido e do digerido) também decresceu linearmente (P<0,01). A utilização de doses de CaO de até 2,25% no tratamento da cana-de-açúcar não afetam as concentrações de uréia na urina e no plasma, a excreção de uréia na urina e a síntese de proteína microbiana em novilhas. No nono capítulo avaliou-se o consumo, a digestibilidade aparente dos nutrientes e a produção e composição do leite em vacas alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar tratada CaO. Objetivou-se também avaliar e eficiência de predição do consumo de MS e do valor energético dos alimentos pelo sistema de equações do NRC (2001). Utilizaram-se 16 vacas em lactação, mestiças, distribuídas em um delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos de quatro doses de CaO (0; 0,75; 1,5 e 2,25%) adicionadas à cana de açúcar. O período experimental foi de 21 dias, sendo o consumo e a digestibilidade avaliados nos sete dias finais. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas (13% de proteína bruta), apresentaram 85% de cana-de-açúcar com 0; 0,75; 1,5 ou 2,25% de CaO corrigida com 1% da mistura uréia e sulfato de amônio (9:1) e 15% de concentrado. Com exceção da digestibilidade dos EE, que não apresentou efeito significativo (P>0,05), a digestibilidade dos demais nutrientes (MS, MO, PB, FDN, FDNcp, CT, CNFcp e o teor de NDT) se comportou de forma quadrática. A produção de leite e a eficiência de MS não foram afetadas pela adição de CaO à cana-de-açúcar (P>0,05). Os teores de gordura, proteína e lactose, sólidos totais e extrato seco desengordurado (kg/dia) do leite não foram alterados pela adição de CaO à cana-de- açúcar (P>0,05). As equações propostas pelo NRC (2001) superestimam os consumos de MS e de PB, FDN e CNF digestíveis e subestimam os de EE digestível e o de NDT. O uso do CaO no tratamento químico da cana-deaçúcar não promove melhorias significativas no consumo e digestibilidade dos nutrientes e nem na produção e composição do leite de vacas. As equações propostas pelo NRC (2001) para estimar o consumo de MS e o valor energético de alimentos não se aplicam para as condições tropicais. No décimo capítulo avaliou-se o comportamento ingestivo, o balanço de nitrogênio, as concentrações de uréia na urina e no plasma e a síntese de proteína microbiana em vacas alimentadas com dietas contendo cana-de-açúcar tratada com CaO. O delineamento e as condições experimentais foram semelhantes ao relatado no nono capítulo. O comportamento ingestivo foi realizado durante dois dias consecutivos, sendo as observações efetuadas em intervalos de cinco minutos. A retenção de N se comportou de forma quadrática em função das doses CaO à cana-de-açúcar. As excreções de nitrogênio na urina e no leite (g/dia) não foram afetadas pela adição de CaO à cana-de-açúcar. As concentrações de uréia na urina, no plasma e no leite e as excreções de uréia na urina e leite não foram afetadas pelas doses de CaO. Não houve efeito dos tratamentos sobre as excreções de alantoína na urina e no leite, ácido úrico na urina e excreção de purinas totais. A adição de CaO à cana-de-açúcar não influencia a síntese microbiana em vacas em lactação. No décimo primeiro capítulo estudou-se o efeito de intervalos entre observações na estimativa do comportamento ingestivo em novilhas e vacas em lactação. Os animais (capítulos 7 e 9) foram observados, 24 horas por dia, ao final do período experimental, em intervalos de 5, 10, 15 e 20 minutos. O efeito dos intervalos entre observações sobre as variáveis comportamentais foi avaliado pelo teste de Dunnett, de forma independente aos efeitos fixos de tratamentos e quadrados latinos. Tanto para novilhas como para vacas, verificaram-se menores (P<0,05) valores para o número de períodos (no/dia) e maiores (P<0,05) para o tempo médio despendido por período de atividades de alimentação, ruminação é ócio nos intervalos de 10, 15 e 20 minutos. O consumo médio de MS e FDNcp por período de alimentação também foram menores (P<0,05) nos intervalos de 10, 15 e 20 minutos. Os intervalos entre observações de 10, 15 e 20 subestimam o número de períodos (no/dia) e superestimam o tempo médio despendido por período de alimentação, ruminação e ócio (min) em novilhas e vacas em lactação, conduzindo a estimativas sofismáticas. Recomenda-se o uso do intervalo de 5 minutos em estudos de avaliação do comportamento ingestivo de bovinos.

ASSUNTO(S)

Óxido de cálcio digestibility consumo pastagem e forragicultura digestibilidade intake calcium oxide

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