As veredas do grande sertão-Brasília : ocupação, urbanização e resistência cultural

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

Este trabalho comprova a hipótese de que a cultura sertaneja resistiu à desconstrução e ao desenraizamento intensificado por Brasília. A resistência acontece, marcadamente, ao nível simbólico, pois os sertanejos mantém suas raízes no Sítio Simbólico de Pertença Sertanejo. Ele foi organizado, a partir da documentação da história de vida de pessoas vindas do Sertão do Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, a saber: o Norte de Minas Gerais, Sudoeste da Bahia e Nordeste de Goiás. Interpretei depoimentos de narradores residentes nas regiões administrativas do Distrito Federal, articulando as questões da sustentabilidade e o romance roseano. A ocupação se aproxima dos 11.000 anos antes do presente. Os Macro-Jê derivaram dos caçadorescoletores e receberam os Tupis-Guaranis, que fugiam do colonizador. Com a rebelião dos índios na lavra do ouro, os europeus importaram escravos africanos. O sertanejo nasce, então, das mestiçagens entre o branco, o índio e o negro. Sua cultura emergiu de contradições. O índio, em busca de quinquilharias, o português, de ouro e o negro, de liberdade, definem um ambiente de namoros, massacres e etnocídios. Na organização política do sistema, as capitanias cuidaram da defesa externa e conquista do Sertão; a distribuição das sesmarias foi definida pela tradição e favoritismo. Ancorados nessa natureza de distribuição de terras e no municipalismo, surgem os coronéis paternalistas, clientelistas e seus jagunços. Esgotado o ouro, pequenas cidades e latifúndios passaram a definir a paisagem com a prática da pecuária extensiva e agricultura de subsistência. Brasília, simultaneamente, aqueceu e pôs fim ao namoro entre os sertanejos e o poder instituído. É fechado um pacto de modernidade com a capital e a tecnologia internacional. Chegava o desenvolvimento com estradas, hospitais e escolas, mas também o desassossego da perda de biodiversidade, iminente colapso dos recursos hídricos e ocupação desordenada do território. Nascia o Sertão-Brasília. As políticas públicas dos governos posteriores ao período JK, fortaleceram o pacto. No turbilhão, a cultura sertaneja é sustentada pelo Sítio Simbólico de Pertença Sertanejo, cujas caixas esquemáticas são, metaforicamente, apresentadas como canastras. A Canastra dos Mitos, Memória e Trajetória de Vida revela sertanejos e sertanejas trabalhadores, não hedônicos, honrados, corajosos, cristãos e com trajetória de vida circular. A Canastra Conceitual apresenta comunidade alicerçada na família, com o marido à frente do trabalho pela subsistência; o gado é força motriz, fonte protéica, de matéria prima e acumulador de riqueza; e estrutura educacional que tanto inclui, quanto exclui. A Canastra de Ferramentas traz dois modelos de ação: o familiar e o comunitário, fundados na solidariedade vicinal que interliga os dois modelos. Recomenda-se o rompimento do pacto e volta do namoro, que possibilita o desenvolvimento situado. As metáforas do pacto e do namoro, extraídas do romance roseano, organizaram a interpretação das relações Sertão-Brasília, que se constitui na fusão de horizontes entre as metáforas, a fundamentação teórica do trabalho e as histórias de vida dos narradores. As metáforas fizeram a tessitura da interpretação. O pacto que Riobaldo, o narrador do romance, busca fechar com o Diabo, é cartesiano, separa, reduz e mata. O namoro é aberto, cheio de incertezas, contradições, seduções e complexo. Darcy Ribeiro (1995), Edgar Morin (1999), Terry Eagleton (2005), tratam da cultura. Hassan Zaoual (2003), Martin Buber (1987), e Simone Weil (2001), conceituam sítio simbólico de pertencimento, comunidade e desenraizamento. Considerando a importância educativa da compreensão da complexidade destas questões para as novas gerações, integrei a produção de um vídeo à metodologia. Ele dá visibilidade ao Sítio de Pertença Sertanejo.

ASSUNTO(S)

cultura sertaneja sítio simbólico de pertença appropriate development sertão sustentabilidade urbanization desenvolvimento situado symbolic site of domains urbanização outros sustainability backland culture

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