As práticas de trabalho e o processo de aprendizagem de trabalhadores da construção civil à luz da estética organizacional

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Os estudos sobre aprendizagem organizacional habitualmente adotam uma visão predominantemente cognitivista e atribuem maior destaque aos aspectos formais de aprender e aos níveis gerencial e/ou organizacional, fragmentando o conhecimento e desconsiderando interações sociais, contexto e o indivíduo no seu todo (mente-corpo). Para superar limitações decorrentes da utilização exclusiva dessa perspectiva nos estudos, a aprendizagem, tratada sob uma perspectiva cultural-interpretativista, considera a natureza processual da aprendizagem e as interações/relações sociais cotidianas dos indivíduos como fundamentais ao aprendizado. Essa abordagem extrapola a dimensão cognitiva de análise e considera outras possibilidades, como a dimensão estética, para compreender as práticas. O presente estudo buscou compreender o processo de aprendizagem e as práticas de trabalho de um grupo de trabalhadores da construção civil, a partir da teoria da estética organizacional. As técnicas empregadas na coleta dos dados foram a observação não-participante e entrevistas em profundidade, realizadas com cinco trabalhadores (mestre de obras e serventes) de uma empresa construtora de pequeno porte do município de Santa Maria (RS). Para a análise dos dados, foi utilizada a técnica de análise textual interpretativa. Os principais resultados obtidos apontam, no grupo de indivíduos pesquisado, a existência de práticas coletivas integradoras, que desempenham papel importante no relacionamento interpessoal criado e mantido pelo grupo. As práticas revelam aspectos que dizem respeito à cultura do grupo, que o distinguem de outros e lhe dão uma identidade própria. O processo de aprendizagem dos trabalhadores revelou-se essencialmente informal. A formação e aprendizagem para a execução das práticas de trabalho ocorrem dentro do próprio trabalho, através da experiência prática, da interação com colegas e pessoas mais experientes e da observação do modo de realização de outros, permitindo introduzir novos comportamentos e formas de realizar as práticas. Os trabalhadores interpretam acontecimentos e situações da vida organizacional, utilizando as faculdades perceptivo-sensoriais e formando um juízo estético a respeito. Associam o trabalho bem feito à beleza, perfeição, harmonia, proporção. Nas práticas de trabalho há um imbricamento entre a esfera cognitiva e a dimensão sensível/estética: além de usarem a cognição, os trabalhadores utilizam suas faculdades perceptivo-sensoriais para interagir com elementos não-humanos e promover a execução das práticas. O uso dos cinco sentidos nas práticas de trabalho revelou-se uma forma de interação dos trabalhadores com o ambiente, tendo o objetivo de orientá-los e fornecer precisão na execução da prática, atuando ainda como uma forma de conhecimento (experiência estética) e aprendizagem. Os trabalhadores estabelecem relação entre seu corpo físico e os artefatos que utilizam no desenvolvimento de suas práticas de trabalho, os quais são vistos como essenciais ao cumprimento e implementação das mesmas. A execução dessas práticas mobiliza conhecimentos pessoais/incorporados/não-formalizados dos trabalhadores, que são compartilhados através do diálogo, observação e interação, passando a fazer parte da cultura do grupo. Esse conhecimento tácito é incorporado pela organização no seu “produto”, obtendo reconhecimento por isso. Utilizando a lente da estética organizacional, o estudo possibilitou abordar o fenômeno da aprendizagem para além da perspectiva lógico-racional, além de introduzir as práticas de trabalho na compreensão da aprendizagem de um grupo de trabalhadores da construção civil.

ASSUNTO(S)

organizações aprendizagem estetica organizacional

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