Aprendendo com a experiencia dos drogados

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

1994

RESUMO

Neste trabalho descrevo a minha experiência de contato com uma instituição que trata de drogados, situada na região de Campinas, estado de São Paulo, Brasil. Cinqüenta e três indivíduos drogados, que lá estavam em tratamento, foram entrevistados, no período de fevereiro a outubro de 1985. Como objetivo, propus-me a pensar e a fazer pensar acerca do que aconteceu a esses indivíduos drogados e por que não conseguimos ajudá-los. Metodologicamente, adotei as idéias de Bion que, ao falar do objeto psicanalítico, aponta a sua extensão ao domínio dos sentidos, dos mitos, das paixões e da teoria psicanalítica. Levantei a hipótese de que o mito de Baco é o que melhor nos serve de referencial para analisar o desenvolvimento mental e os conflitos do drogado, em toda a dimensão de sua tragédia. Como complemento à compreensão do mito de Baco, fiz um breve "passeio semântico" pelos mitos de Apolo, Eros e Édipo e pelos personagens bíblicos de João e de Jesus. Reuni algumas hipóteses da moderna física que, junto com os mitos e os personagens bíblicos, ajudam a pensar que cada ser humano parece fazer e receber "interações psíquicas" desde o início, desde a concepção e, provavelmente, antes disso, através do desejo e da aceitação daquele filho, nas mentes dos pais. Percorri algumas idéias psicanalíticas, principalmente de Bion e de Rezende, que ajudam a compreender a experiência de aprender, que vivenciei ao estar em contato com a instituição e com os drogados, e também o desenvolvimento mental e os conflitos dos meus entrevistados. Chamei de "Complexo de Baco" a esse desenvolvimento mental que leva o indivíduo a sentir-se psiquicamente órfão, a não se sentir como objeto do desejo dos pais, a "viajar" de um lado para outro, sem rumo, até à última "viagem", a morte, que geralmente ocorre por overdose, suicídio, acidente fatal ou homicídio, ligados ao uso e efeitos das drogas. Ilustrei essa "teoria" sobre os drogados com os exemplos de Christiane F.e Michel Frank. Citei também Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Modigliani, como exemplos. De Freud, o pai da Psicanálise, apresentei alguns aspectos de sua biografia gue ajudam a compreender por que, apesar de entrar em contato com a droga (cocaína), não se tornou um drogado. A seguir, fiz uma breve reflexão acerca da maneira como alguns especialistas e Governantes de países estão lidando com o problema da drogadicção no mundo. Por fim, apresento o método, o caminho que percorri, incluindo um "atalho" gue fiz no início, e o modelo de entrevista gue utilizei. Na última parte, a bibliografia.

ASSUNTO(S)

toxicomanos mitologia psicanalise

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