Análise da variação ontogenética da assinatura isotópica de Cyanocharax alburnus (Teleostei, Characiformes)

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

A análise de isótopos estáveis está sendo cada vez mais utilizadas para o entendimento da real assimilação de nutrientes e da posição trófica de organismos. Ela é utilizada principalmente em espécies para as quais pouco se conhece do habito alimentar ou onde a análise estomacal demonstra contradições. O conceito de nicho isotópico procura determinar um valor único que represente a assinatura isotópica de uma espécie, considerando a variação ontogenética do consumo de diferentes itens alimentares e a curva de biomassa/idade da espécie. No presente trabalho procurou-se estimar o nicho isotópico de Cyanocharax alburnus capturado na Lagoa da Pinguela (RS) através de coletas nos meses de novembro de 2009 e abril de 2010, utilizando rede de arrasto de praia. Foram capturados no total 1210 indivíduos. Através da ferramenta Agegroup foram identificados dois grupos etários na amostra de novembro/dezembro de 2009 e um único grupo na amostra de abril de 2010. Através da ferramenta Age-Group estimou-se o comprimento assintótico (Linf) segundo o modelo de von Bertalanffy em 9,1 cm e a constante de crescimento (k) em 0,65. A taxa de mortalidade natural (M) foi estimada em 1,65 (DP=0,24). Através do ajuste da relação de peso/comprimento de Huxley estimou-se o valor do coeficiente de proporcionalidade (a) em 0,0081 e o coeficiente alometria (b) em 3,07. A distribuição de resíduos proporcionais da relação peso/comprimento de Huxley, entretanto, apresentou uma marcada assimetria para animais com comprimentos de 1,0 cm ao 4,0 cm, optando-se pelo ajuste do modelo de relação peso/comprimento polifásico. O modelo ajustado indica uma alteração no coeficiente de alometria (b) ao longo do desenvolvimento ontogenético, que passa de 2,53 em indivíduos menores que 3,39 cm para 3,19 em indivíduos maiores. Os valores mensurados de assinatura isotópica de δ13C e δ15N para C. alburnus na lagoa da Pinguela apresentaram variação considerável entre os indivíduos, revelando diferenças individuais relativas a fontes primárias de carbono e posição trófica. Os valores de assinatura isotópica para δ13C apresentaram média de -20,4 , desvio padrão de 1,14 , e amplitude de variação entre - 18,18 e -24,66 . Para δ 15N verificou-se um valor médio de assinatura isotópica de 11,0 , desvio padrão de 0,55 , e amplitude de variação entre 10,41 e 12,51 . Através de regressão linear, não se identificou qualquer tendência de variação da assinatura isotópica de carbono ou nitrogênio em função do comprimento (b=0; δ13C: n = 25, P = 0,10; δ15N, n = 25, P = 0,55), indicando que não há alteração de fonte de carbono ou de nível trófico de C. alburnus entre comprimentos de 2 a 8 cm. Neste sentido, a concepção do conceito de nicho isotópico não se aplica para C. alburnus, já que a espécie não altera a fonte de carbono ou nível trófico em função do desenvolvimento ontogenético. No presente trabalho identificou-se que a assinatura isotópica de carbono e nitrogênio apresenta três fontes principais de variação: variação intraespecífica, variação entre espécies diferentes da mesma localidade e entre localidades diferentes. Verificou-se, entretanto, que a variação intra-específica de C. alburnus, em termos de assinatura isotópica de carbono e nitrogênio, é tão ampla quanto diferentes espécies capturadas em uma mesma localidade. Se cada valor plotado for o resultado de média de poucos indivíduos, então o padrão identificado pode ser completamente mascarado pela variação intraespecífica, prejudicando qualquer inferência quanto à posição trófica ou fonte primária de carbono. Por outro lado, identificou-se que a maior fonte de variação constitui-se na origem geográfica do dado, de forma que a comparação de valores brutos entre localidades diferentes se torna temerária em termos de entendimento de padrões alimentares

ASSUNTO(S)

zoologia ecologia teleÓsteos isÓtopos peixes zoologia

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