A semântica dos verbos dativos em inglês e em português : propriedades e questões

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2011

RESUMO

Em português, assim com em outra linguas românicas, certos complementos verbais – especialmente quando governados pelas preposições para ou a (ambas usualmente traduzidas por to ou for) – podem ser convertidas no que alguns gramáticos tradicionais chamam de ''pronomes dativos'', como em A Maria lhe deu um livro. Chamaremos essa contrução de dativização em português. Nosso objetivo neste trabalho é estudar as propriedades semânticas dos verbos que entram nessa construção. No primeiro capítulo, começaremos por uma revisão das observações apresentadas nas gramáticas tradicionais. Mostraremos que elas oferecem uma caracterização muito superficial e insuficiente do processo. Depois de uma breve demonstração de que a dativização em português compartilha algumas propriedades de uma bem conhecida construção do inglês, especificamente, a construção de duplo objeto (cf. Green 1974, Oerhle 1976, entre outros), voltamo-nos para a vasta literatura sobre ela. Comparamos as construções do português e do inglês, chegando a dois resultados preliminares: (a) ambos os processos comprtilham uma propriedade fundamental, especificamente, os verbos afetdos envolvem alguma relação de posse entre os dois ''argumentos internos''; (b) as duas lingua diferem, no entanto, com respeito às restrições temporais sobre as construções – Inglês é sensível à informação temporal (codificada dentro do que a literatura chama de restrição do ''posuidor prospectivo''), enquanto o português não é. No segundo capítulo, nos submetemos estes resultados preliminares a uma revisão crítica, e descobrimos que ambos são problemáticos. Um desses problemas emerge da hipótese proposta por Koenig & Davis (2001); de acordo com esta hipótese, processos que afetam a realização sintática de argumentos de verbos são insensíveis à informação modal de natureza sublexical, o que inclui informação temporal concernete aos eventos que compõem os significados dos verbos. Como mostraremos, essa hipótese é incompatível com a ideia de que as construções de duplo objeto do inglês estão sujeitas aos possuidores prospectivos. Ao mesmo tempo, a hipótese é completamente compatível com a dativização em português, que não é sensível a informação temporal. Além do mais, como nos mostraremos, Koenig & Davis (2001) apresentam um largo espectro de argumentos que dão suporte à ideia de que a informação modal é realmente transparente à realização argumental, incluindo fatos relacionados aos verbos dativos. Assim, nossa conclusão final, a respeito desse assunto, é que a hipótese de que a realização dos argumentos é insensível a informação modal sublexical é correta, e que deve haver alguma explicação independente para a explicação do comportamento excepcional da construção de duplo objeto em inglês. O segundo problema que discutimos a respeito dos resultados do primeiro capítulo se refere à ideia de que os verbos dativos involvem alguma relação de posse entre os dois argumentos internos. Seguindo questões primeiramente levantadas por Oerhle (1976), sustentamos que não é claro se há realmente alguma noção de posse que cubra todas os casos relevantes. Além disso, mostramos que há casos que falham no único teste operacional existente na literatura para a identificação da noção relevante. Além disso, mostramos que há casos que falham no único teste operacional existente na literatura para a identificação da noção relevante. Então, nossa conclusão sobre a abordagem baseada em posse para a semântica dos verbos dativos é que não podemos tomá-la como bem motivada; é possível que estejamos lidando com outro tipo de relação: seguimento da pesquisa clarificará melhor essa questão.

ASSUNTO(S)

semântica lexical lexical semantics of verbs argument realization verbo alternância dativa dative alternation dativization in portuguese

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