A questão triplamente controvertida da resiliência em famílias de baixa renda

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2001

RESUMO

O presente trabalho busca compreender a questão da resiliência em famílias de baixa renda a partir de uma ótica crítica e questionadora das tendências à substantivação daquele fenômeno. Trata-se de um conceito antigo e original da Física que vem sendo estudado pela Psicologia há cerca de trinta anos, e, no Brasil, representa um terreno pouco pesquisado. Realizou-se uma intensa revisão bibliográfica acerca das investigações de resiliência visando a compreensão das perspectivas teóricas sobre o tema. Pode-se observar que o discurso hegemônico é centrado no indivíduo e tem por base pesquisas de natureza quantitativa que colaboram para naturalizar a resiliência como capacidade ou disposição humana. Estudos sobre resiliência em famílias formam um discurso subordinado, mas trazem contribuições de pesquisas qualitativas realizadas na visão sistêmica, ecológica e de desenvolvimento. Por tratar-se de um projeto que envolve três temas controversos como resiliência, família e pobreza, as estratégias metodológicas escolhidas visaram permitir que os fenômenos pesquisados se apresentassem dissociados do viés das concepções preexistentes à sua investigação. Foram utilizadas entrevistas abertas com oito profissionais que atendem famílias pobres e entrevistas reflexivas para a obtenção de histórias de vida de duas famílias indicadas por enfrentarem as dificuldades da pobreza e viverem bem. A grounded-theory foi o método que ofereceu os subsídios necessários para a análise dos dados e facilitou que categorias, fenômenos e processos emergissem dos próprios dados e não fossem impostos por teorias prévias. Através do discurso das profissionais pode-se identificar o caráter ideológico e idiossincrático da noção de resiliência quando aplicada a família que, na situação de pobreza, são vistas como não-cumpridoras do código socialmente dominante. O estabelecimento de critérios para a compreensão e atribuição do conceito no que tange aos modos de enftentamento de adversidades das famílias estudadas também mostrou-se problemático pelo dinamismo e complexidade dos fatores relacionais, sociais e históricos que permeiam os processos familiares. Diante disso, meu discurso crítico demonstra as dificuldades do enfeixamento desta diversidade dentro de um mesmo quadro de universalidade conceitual e recomenda cautela na utilização do conceito de resiliência em famílias pobres

ASSUNTO(S)

resiliencia low income families family resilience familias de baixa renda psicologia da educacao resiliencia em familias familia family resilience psicologia educacional

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