A criação em Nietzsche: por uma estético-ética da criatividade

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

10/10/2011

RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo investigar as possibilidades de conceber uma ética de caráter estético a partir da noção de criação no contexto filosófico nietzschiano. Tal noção é claramente revisitada e operada pelo filósofo junto às principais figuras de pensamento desenvolvidas em suas reflexões, constituindo importante elemento de compreensão da existência humana. Nessa direção, conjeturamos ser exequível uma reconfiguração do ethos baseada no sentido nietzschiano de criação, do criar (schaffen) enquanto construção de valores em função da atividade cósmico-fisiológica (conforme a imagem tardia da vontade de poder), da experimentação em franca correspondência com a abertura trágica do mundo, afirmada artisticamente como uma estética existencial. No desenvolvimento desta hipótese, optamos pelo uso da expressão criatividade, com a qual acreditamos depreender um tipo humano criativo como disposição concretizadora dessa estético-ética, designado pela imagem de um humano, escasso humano. Este, segundo entendemos, não seria o homem do ressentimento agrilhoado à metafísica e à moral, nem o além-do-homem (Übermensch), enquanto experiência de ultrapassagem ou proposta para lidar com o completo vácuo de sentido da vida: o humano, escasso humano está justamente entre o homem ressentido e o sobre-humano. Ponderamos que esse homem criativo, raro, porque escasso humano, mostra-se em algumas figuras tipológicas delineadas por Nietzsche em seu percurso filosófico. Utilizando um método crítico-analítico dos textos nietzschianos, acompanhado de intensa análise hermenêutica, buscamos identificar diacronicamente ideias, argumentos e asserções que consolidam a referida hipótese. A estrutura do trabalho está dividida em quatro capítulos. No primeiro, analisamos a noção de criação no cerne do pensamento nietzschiano, enfatizando seu constante e fundamental aparecimento junto às concepções desenvolvidas pelo Nietzsche tardio. No segundo, perscrutamos os argumentos nietzschianos que aduzem a atividade criadora, o conceito de experiência, o saber trágico, e o imperativo de afirmação da vida, enquanto critérios formadores de um ethos alternativo às éticas tradicionais. No terceiro, examinamos algumas questões deixadas por intérpretes que trataram da dimensão assumida pela arte na filosofia de Nietzsche, reunindo argumentações para defender que a criação é entendida como qualidade da vontade de poder em seu efetivar-se, no sentido da criação artística. No último capítulo, investigamos as indicações nietzschianas a uma possível grandeza humana ligada a uma tipologia ativa e criadora, mediante análise do tipo senhor, aristocrata e nobre, bem como de outras figuras construídas pelo filósofo. Nele, indagamos sobre a inserção das reflexões de Nietzsche no rol da antropologia filosófica, ponderando a articulação entre condição humana e avaliação, característica de seus construtos maduros. Após tal exame, discutimos as possibilidades deste tipo humano entendido por nós como criativo, na medida em que engendra valores por expressão de potência como atividade simultaneamente afirmativa.

ASSUNTO(S)

escasso humano arte ética estético ethos criação filosofia aesthetic ethos creation ethic art scarce human

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