A agonia da reportagem: das grandes aventuras da imprensa brasileira à crise do mais fascinante dos gêneros jornalísticos : uma análise das matérias vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

O objetivo deste trabalho é responder à pergunta que mais me inquieta como profissional e que me empurrou de volta para a universidade: por que as reportagens brasileiras estão como estão ? Estão distante de suas raízes. Estão indigestas, pasteurizadas, declaratórias, agarradas ao discurso da objetividade, obcecadas pela cobertura do poder e fechadas entre os palácios de três cidades, Brasília, São Paulo e Rio. Significa que a grande imprensa brasileira está esquecendo o mais nobre dos gêneros jornalísticos, o único que combina densidade narrativa com capacidade reflexiva e valor documental. Significa também que os jornalistas já não vivem de contar histórias e leitores de lê-las. Divido a dissertação em três partes. Na primeira discuto e diferencio os conceitos de notícia e reportagem. Na segunda, apresento um pouco da história da reportagem no Brasil e no mundo. Na terceira, mergulho na fase empírica da pesquisa, onde, através da metodologia de análise de conteúdo, examino as matérias vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo, desde sua criação em 1956 até 2005. É a premiação mais respeitada da imprensa brasileira, e, em que pesem as críticas ao processo de seleção dos textos premiados, não há dúvida de que os agraciados estão entre os melhores trabalhos produzidos anualmente pela imprensa brasileira. Ao analisá-los, portanto, estaremos examinando o que há de melhor em nosso jornalismo. Concentro-me nas reportagens vencedoras da categoria principal do Esso. São 49 trabalhos em 50 anos e refletem cada momento do jornalismo no país, o que me permitiu caracterizar fases da produção jornalística brasileira. Para isso, defini categorias diferenciadas de matérias no que se refere ao tema, ao enfoque, ao texto e ao processo de produção. Classifico as reportagens em sete grandes áreas: 1. Sociais 2. Fiscalizadoras do poder 3. Internacionais 4. Policiais 5.Culturais 6. Esportivas 7. Econômicas. A classificação por categorias temáticas revela que a reportagem brasileira está experimentando um profundo processo de mutação de seus fundamentos, desde a pauta até a publicação, passando pela apuração e pelo estilo do texto. A última reportagem social que venceu o Esso foi em 1989 e tratava do assassinato de Chico Mendes. Desde então, com quatro exceções, um único tema é premiado na categoria principal: corrupção política no Legislativo, no Executivo e no Judiciário, e concentrada em São Paulo, Rio e Brasília. Os textos obedecem sempre a mesma fórmula: objetividade, poucos adjetivos, muito off e farta documentação comprobatória. É uma leitura sem viagem, um passaporte para o desencanto, num mundo sem heróis e comandado por bandidos. No capítulo final do trabalho, concluo que está evidente a existência de uma franca concentração na abordagem política, em detrimento das grandes matérias com temáticas sociais e produzidas a partir de longas viagens, com orçamentos generosos e textos extensos. Ou seja o funeral da reportagem social é também o funeral da narrativa. Uma morte lenta, um calvário com coveiros que seguem enterrando, um a um, os fundamentos do mais fascinante dos gêneros jornalísticos.

ASSUNTO(S)

reportagens e repórteres jornalismo-história jornalismo e editoracao

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