Vírus emergentes de animais: verdadeiras ameaças ou meros espectadores?
AUTOR(ES)
Flores, Eduardo Furtado, Weiblen, Rudi, Cargnelutti, Juliana Felipetto, Bauermann, Fernando Viçosa, Spilki, Fernando Rosado, Mori, Enio, Franco, Ana Cláudia
FONTE
Pesq. Vet. Bras.
DATA DE PUBLICAÇÃO
2013-10
RESUMO
O número de vírus animais cresce continuamente, causando preocupação permanente a virologistas e veterinários. O potencial patogênico e associação com doença tem sido claramente demonstrado para alguns - mas não para todos - vírus emergentes. Esse artigo apresenta uma breve revisão das recentes descobertas de vírus animais e a sua potencial relevância para saúde animal. Cães eram considerados refratários aos vírus da influenza até 2004, quando um vírus influenza A subtipo H3N8 foi transmitido de equinos e causou doença respiratória severa em cães galgos na Flórida/EUA. O novo vírus, denominado vírus da influenza canina (CIV), agora considerado uma linhagem distinta do vírus da influenza equina, disseminou-se na população canina urbana dos EUA. Um novo Pestivirus (Flaviviridae) - provisoriamente denominado pestivírus Hobi-like - foi identificado em 2004 em soro fetal bovino importado do Brasil. Os vírus Hobi-like são genética e antigenicamente relacionados com o vírus da diarreia viral bovina (BVDV) e induzem manifestações clínicas semelhantes. A sua origem e distribuição são desconhecidas, mas estão aparentemente disseminados no rebanho brasileiro e já foram identificados no sudeste asiático e na Europa. Em 2011, um novo buniavírus transmitido por mosquitos, denominado vírus Schmallemberg (SBV), foi associado com febre, redução da produção de leite, abortos e malformações fetais em bovinos e ovinos da Alemanha. Subsequentemente, esse agente se disseminou por vários países europeus e atualmente representa uma séria ameaça para saúde animal naquele continente. A origem do SBV é um tema ainda controverso, mas possivelmente tenha resultado de ressortimento entre os buniavírus Shamonda e Satuperi. O vírus da hepatite E (HEV, família Hepeviridae) é um conhecido agente de hepatite aguda em humanos e, em 1997, foi identificado pela primeira vez em suínos. Estudos epidemiológicos posteriores revelaram que o HEV está amplamente distribuído em rebanhos suínos, principalmente associado com infecção subclínica. Dois dos quatro sorotipos do HEV são zoonóticos e podem ser transmitidos entre suínos e humanos por água contaminada e carne mal-cozida. A distribuição atual e impacto da infecção pelo HEV na produção suína são desconhecidos. O girovírus aviário tipo 2 (AGV-2) é um novo girovírus, família Circoviridae, identificado no sangue de galinhas com suspeita de infecção pelo vírus da anemia aviária (CAV). O AGV-2 é estreitamente relacionado ao CAV, mas apresenta diferenças genômicas que justificam sua classificação como espécie viral distinta. O AGV-2 parece estar amplamente distribuído em galinhas no Brasil e também em outros países, mas seu potencial patogênico ainda é desconhecido. Finalmente, a longa e intensiva busca por vírus animais relacionados ao vírus da hepatite C humana (HCV) tem levado a identificação de "novos" pestivírus em cães (canine hepacivirus [CHV]), equinos (hepacivirus de não-primatas [NPHV] ou vírus associado à doença de Theiler [TDAV]) e em roedores. Para estes, uma associação clara e definitiva com doença ainda não foi demonstrada e apenas tempo e investigação irão dizer se são patógenos reais ou apenas espectadores.
ASSUNTO(S)
vírus emergentes patógenos animais evolução genética
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