Violências singulares, textos plurais: um diálogo entre Sapato de salto de Lygia Bojunga e As aventuras de Ngunga de Pepetela / Singular violence, plural texts: a dialogue between \ Shoe heels\ of Lygia Bojunga and The adventures of Ngunga\ of Pepetela.

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

22/06/2011

RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo discutir e comparar as imagens da violência e da infância, que são histórica e culturalmente construídas, na literatura de recepção infantil, analisando as obras As aventuras de Ngunga, do escritor angolano Pepetela e Sapato de salto, da escritora brasileira Lygia Bojunga, buscando compreender em que medida a articulação entre as duas obras possibilita a compreensão dessas culturas para identificar os efeitos estéticos, culturais e sócio-políticos presentes nessas obras. Utilizou-se como aporte teórico o referencial dos Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa e os estudos relativos à formação e ao desenvolvimento da literatura juvenil no Brasil e em Angola, utilizando também as noções do paradigma indiciário proposto por GINZBURG (1989) como um recurso metodológico que pode contribuir com a Literatura Comparada. O modelo indiciário mostrou-se uma perspectiva de análise produtiva para o desvelamento das imagens das violências, no percurso de construção das identidades dos protagonistas das duas obras analisadas, por mapear os indícios, que permitiram identificar as diferentes violências que constituem, em parte, um legado universal, por estarem presentes em todas as culturas e nas mais diversas temporalidades; e, em parte, um conceito idiossincrático, por apresentarem tonalidades locais, de acordo com o tempo-espaço em que elas se materializam, já que partimos da hipótese de que se trata de um conceito que é histórico e culturalmente construído. Nos universos ficcionais analisados, os protagonistas não se apresentaram apenas como meras potencialidades de recursos estético-formais, mas revelaram uma natureza simbólico-coletiva, à medida que espelharam a matriz constitutiva do adulto que constrói o futuro das sociedades a que pertencem. Por essa razão, o constructo emprestado de Deleuze e Guattari do devir-criança mostrou-se eficaz para caracterizá-los, afastando-os da imagem idealizada da infância vista apenas como uma etapa da vida humana marcada pelas narrativas da inocência e possibilitando sua análise como uma construção histórica, cultural, social e econômica que permite explicar a sociedade de que eles são produtos. Também as imagens das violências que gravitam em torno desses universos ficcionais puderam ser recuperadas pelo mapeamento de indícios, em cada um dos projetos estéticos estudados. Assim, foi possível concluir que para além das histórias que cada protagonista constrói e que são marcadas na efabulação pelo seu chrónos específico, a condição de devir-criança os aproxima, no tempo aiônico das experiências por que passam, já que eles interrompem a história, revolucionam-na e criam pelo princípio-esperança uma nova e potencial história, uma matriz espaço-temporal de onde outras histórias podem ser contadas sobre o que pode ser a infância como potência, como possibilidade real. Dessa forma, não se pode falar em infância, mas em infâncias, em existências singulares que aprendem, de acordo com os modelos que lhes são oferecidos pelo universo adulto, mostrando que se deve tornar o passado útil e não coercitivo, na formação das novas gerações, ensinando não o que aprender, mas como fazê-lo e não com o que comprometer-se, mas mostrando-lhes o valor do compromisso.

ASSUNTO(S)

juvenile literature literatura juvenil lygia bojunga lygia bojunga pepetela pepetela violence violência

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