Violência nas relações íntimas: uma análise psicossociológica / Intimate partner violence: a psychosocial analysis.

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A violência contra a mulher no contexto das relações íntimas é aquela praticada pelo cônjuge, noivo, namorado ou companheiro. É o tipo mais recorrente de violência contra a mulher. O objetivo deste estudo foi investigar os fatores relacionados à permanência e ao rompimento do relacionamento íntimo violento, na perspectiva da mulher em situação de violência. A pesquisa consistiu em primeiramente construir um modelo teórico explicativo do início, permanência e rompimento do relacionamento violento; em seguida foi realizada uma pesquisa empírica abordando o modelo teórico. O modelo teórico proposto considera que a violência na relação íntima pode ser analisada a partir de três dimensões: a dimensão cognitiva, na qual o principal fator explicativo da manutenção da relação íntima violenta seria a disfuncionalidade cognitiva, constituída por características como crenças disfuncionais/irracionais, baixa auto-estima, baixa auto-eficácia percebida, lócus de controle externo; a dimensão relacional, constituída principalmente pela funcionalidade comportamental da relação, isto é, a avaliação feita pela mulher dos ganhos em manter-se na relação e as respectivas perdas que ela teria caso rompesse a relação dependência econômica, preocupação com o sustento ou bem-estar dos filhos, rejeição ao status de mulher separada, medo de ser assassinada; e a dimensão cultural, formada pelas crenças sociais amplas acerca da violência, dos papéis sexuais, refletidas no apoio social percebido pela mulher, seja pelos grupos mais próximos como familiares e amigos, seja pelas instituições sociais, polícia, justiça, entre outros. A pesquisa empírica consistiu num estudo de casos múltiplos com 12 mulheres que viveram ou ainda vivem uma relação íntima violenta. O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista em profundidade realizada em duas partes. Na primeira a mulher contava a história do relacionamento violento e na segunda eram aprofundados pontos específicos, relacionados ao modelo. A análise dos dados mostrou que indicativos de disfuncionalidade cognitiva estavam presentes principalmente na fase da permanência da mulher na relação violenta, a principal crença disfuncional verificada foi a crença da mulher, muitas vezes por anos, na mudança do comportamento violento do parceiro. A funcionalidade comportamental foi evidenciada na permanência e no rompimento. O aspecto funcional mais frequente foi a manutenção pelo marido das despesas da casa e/ou dos filhos. Dois tipos de quebra da funcionalidade comportamental foram mais indicados como desencadeadores do rompimento a mulher passou a ter condições de se manter e manter os filhos sem necessitar do parceiro, e a mulher sofreu tentativa de assassinato. O apoio social de familiares e amigos ao relacionamento foi motivador para a permanência e em alguns casos a não percepção de apoio social também favoreceu a permanência. Concernente ao apoio social para o rompimento, houve destaque para o apoio social dos filhos, citado como decisivo por parte significativa das mulheres. Foi referida ainda a ausência de apoio social das instituições polícia e justiça como motivadores da permanência. Em um dos casos esta ausência de apoio provocou uma reelaboração cognitiva, fortalecendo crenças disfuncionais de que a mulher deveria manter-se no relacionamento violento. Os mecanismos das dimensões relacional e cultural mostraram-se mais influentes no rompimento, enquanto as características cognitivas parecem estar mais associadas à permanência.

ASSUNTO(S)

violência nas relações íntimas conjugalidade violenta violência contra a mulher psicologia intimate partner violence conjugal violence violence against women

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