Violência intrafamiliar e envolvimento em "bullying"no ensino fundamental.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

Muitos estudos têm demonstrado que as crianças expostas à violência doméstica possuem mais chance de apresentar problemas de comportamento e de ajustamento na escola. Entretanto, poucos estudos têm verificado a relação entre diferentes tipos de violência doméstica e bullying. A presente pesquisa teve como principais objetivos: a) investigar a associação entre bullying e violência doméstica direta e indireta; b) verificar a cronicidade de violência doméstica nos subgrupos de alunos envolvidos em bullying; c) estabelecer se havia diferença entre os gêneros no que se refere a essas associações. Participaram do estudo 239 estudantes, que cursavam da 5 à 8 séries, sendo que 34,7% eram meninos e 65,3%, meninas. Um questionário foi construído, baseado em outros instrumentos, e continha: 12 questões sobre variáveis sócio-demográficas; 16 itens da Escala de Tática de Conflitos Revisada (CTS-2), com o objetivo de investigar a exposição dos estudantes à violência interparental física e psicológica; e 32 questões da Escala de Táticas de Conflito entre Pais e Crianças (CTSPC), que mediam a violência física e psicológica cometida por mães e pais contra os participantes. O envolvimento em bullying foi avaliado por meio de 26 itens, desenvolvidos especialmente para os propósitos desse estudo, baseados em uma versão modificada do questionário de Olweus. No geral, 49% dos alunos relataram envolvimento em bullying nos três meses anteriores à coleta de dados: 2,9% como autores, 25,5% como vítimas e 20,5% como vítimas-agressoras. Os meninos tiveram mais envolvimento em bullying como alvo/autores do que as meninas. Mais de 50% dos participantes testemunhou pelo menos um episódio de violência psicológica entre os pais e 12% dos estudantes foram expostos, também, à violência física interparental, sendo relatado que pais e mães se agrediam em igual proporção. Com relação à violência contra a criança, a violência psicológica foi a modalidade mais freqüente: 85% dos participantes relataram que suas mães haviam perpetrado esse tipo de violência contra eles e, 62%, sofreram essa violência por parte dos pais. A prevalência do abuso físico contra as crianças foi, também, alarmante: cerca de 70% dos alunos relatou ter sofrido punição corporal cometida pelos pais. Foram encontradas associações entre violência doméstica e bullying, com peculiaridades de acordo com o gênero dos participantes. Estar exposto à violência interparental esteve associado com ser alvo/autor de bullying na escola (especialmente para as meninas), mas não com ser vítima de intimidação. A violência parental direta, por sua vez, aumentou a chance dos garotos relatarem envolvimento em bullying como vítima e também a chance de ser vítima-agressora. Entre as meninas, sofrer violência por parte dos pais foi um fator associado somente com atuar em bullying como alvo/autor. Ser vítima-agressora, na presente pesquisa, significou ter mais chance de sofrer violência doméstica e que essa violência fosse mais crônica do que a relatada por alunos sem envolvimento em bullying ou que eram apenas alvo de intimidação. Devido ao baixo número de participantes classificados apenas como autores de bullying, não foi possível realizar análises estatísticas com esse grupo, o que foi uma limitação importante da presente pesquisa.

ASSUNTO(S)

escola - socialização crianças - violência doméstica domestic violence educação especial bullying educacao especial desenvolvimento infantil child abuse

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