Violência física entre parceiros íntimos na gestação: um fator de risco para depressão pós-parto? / Physical intimate partner violence in pregnancy: a risk factor for postpartum depression?

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

A violência entre parceiros íntimos (VPI) e a depressão pós-parto (DPP) são as temáticas principais dessa Tese. Seu objetivo principal foi investigar se a violência física entre parceiros íntimos (VFPI) é um fator de risco para DPP. Adicionalmente, a estrutura dimensional da Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS) foi reavaliada, e outro estudo estimou a prevalência de DPP entre mulheres usuárias de unidades básicas de saúde na cidade do Rio de Janeiro, Brazil. As informações que subjazem esses três artigos originaram-se de um inquérito realizado em cinco UABS no Rio de Janeiro, entre janeiro e junho de 2007. Foram selecionadas aleatoriamente mulheres com até cinco meses pós-parto que estivessem aguardando por consultas pediátricas, sendo consideradas inelegíveis aquelas que não haviam vivenciado ao menos um mês de relação íntima no ciclo grávido-puerperal, cujas gestações-índice foram gemelares, ou se houvesse contra-indicação absoluta para a amamentação. Dentre 852 mulheres selecionadas, 18 (2,1%) eram inelegíveis e 23 (2,8%) recusaram-se a participar, totalizando então 811 entrevistas completas. No artigo inicial a validade dimensional da EPDS foi reavaliada através de análise fatorial exploratória (AFE) e, em seguida, análise fatorial confirmatória (AFC). Os resultados da AFC apontaram que a EPDS é mais bem definida por uma solução fatorial que inclui três fatores de primeira ordem (―stress comum‖, ―ansiedade‖ e ―depressão‖) e um fator de segunda ordem, o qual parece representar o construto depressão pós-parto. O segundo artigo mostrou uma prevalência geral estimada de DPP na população estudada de 24,3%. Contudo, houve um pico de sintomas depressivos próximo ao terceiro mês pós-parto, quando a magnitude projetada de DPP atingiu 37,5%. Ainda neste período crítico, a prevalência estimada de DPP ultrapassou 50% entre mulheres com bebês prematuros ou cujos parceiros faziam uso excessivo de álcool. Quadro ainda mais grave foi observado entre mães sem parceiros fixos ou cujos companheiros usavam drogas ilícitas ou psicotrópicas, com mais de 70% delas apresentando-se provavelmente deprimidas. Em relação ao artigo principal dessa Tese, este revelou que a VFPI é um fator de risco para DPP mesmo após essa relação ser controlada para diversas covariadas. Foi também identificada uma interação significativa entre VFPI e o uso demasiado de álcool pelos companheiros (p-valor=0,026). Entre as mulheres cujos parceiros faziam mal uso de álcool, apenas um ato de VFPI não aumentou a probabilidade de DPP (OR=0,87, IC 95% 0,25-3,03), enquanto dois ou mais eventos foram significativamente associados à DPP (OR=3,62, IC 95% 1,64-7,99). Já entre aquelas cujos companheiros não faziam mal uso de álcool, o aumento na probabilidade de DPP deu-se especialmente com a ocorrência de um episódio de VFPI (OR=2,47, IC 95% 1,31-4,66), enquanto dois ou mais episódios mostraram uma menor associação com DPP (OR=1,66, IC 95% 1,00-2,75). Em síntese, vislumbra-se que os resultados dessa Tese possam colaborar para uma melhor saúde materno-infantil em nosso meio. Conforme já discutido por outros autores, a utilização da EPDS para uma abordagem inicial dos quadros depressivos pós-natais deve ser encorajada, especialmente em situações de elevado risco psicossocial. Adicionalmente, ações que visem à prevenção da DPP devem contemplar o enfrentamento da VPI.

ASSUNTO(S)

depressão pós -parto transtornos mentais domestic violence violência entre parceiros íntimos risk factor prevalência prevalence pospartum depression violência doméstica mental disorders factor analysis epidemiologia análise fatorial fator de risco intimate partner violence

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