Vilosite de etiologia desconhecida correlação clinico-patalogica

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DATA DE PUBLICAÇÃO

1998

RESUMO

INTRODUÇÃO: Vilosite é caracterizada por um infiltrado inflamatório no estroma das vilosidades coriais e é classificada quanto à etiologia em conhecida e desconhecida. A incidência de vilosite de etiologia desconhecida (VED) varia em diferentes países e são aventados três fatores para explicar essas diferenças: número de fragmentos examinados, critérios histológicos para o diagnóstico de vilosite e a população da qual a placenta é obtida. Clinicamente, a VED tem sido associada ao recém-nascido pequeno para a idade gestacional (RN PIG), aborto recidivante e doença hipertensiva especifica da gravidez (DHEG). Entretanto, a associação relatada de VED com o RN PIG é muito variável (7,5 a 86%) e em relação à DHEG há discordâncias. OBJETIVOS DO TRABALHO: 1| determinar a freqüência de VED, discriminando o seu padrão de distribuição no parênquima placentário e sua intensidade: numa amostra aleatória, em vários grupos clínicos constituídos por mães normotensas (NT), com DHEG e com hipertensão crônica (HC) e em RN PIG e NÃO PIG; 2) determinar o número adequado de fragmentos examinados por placenta para diagnosticar vilosite de etiologia desconhecida. MATERIAL E MÉTODOS: Foram estudadas 213 placentas de RN vivos, não gemelares e sem evidências clínicas ou sorológicas de infecção. Destas placentas, 81 pertenciam à amostra aleatória, 151 eram de mães normotensas, 37 de DHEG, 25 de hipertensão crônica, 38 de RN PIG e 175 de RN NÃO PIG. Todas estas placentas foram fixadas em formalina a 10%, sendo retirados para exame histológico 8 fragmentos do parênquima placentário, 1 de membrana e 1 de cordão umbilical. Adicionalmente, foram estudadas 47 placentas para verificar a influência do número de fragmentos examinados sobre a freqüência de vilosite e, nestes casos, as secções do parênquima placentário rotuladas de 1 a 8 foram colocadas em lâminas separadas. Todas as secções histológicas foram coradas por hematoxilina e eosina. As lesões inflamatórias foram classificadas em vilosite basal ou parenquimatosa (focal) ou mista (com ambos os componentes, (parenquimatoso e basal), de acordo com a localização da vilosidade acometida em relação ã placa basal e câmara vilosa. A intensidade do processo inflamatório foi graduado em leve, moderado e intenso, conforme a quantidade de vilosidades afetadas. RESULTADOS: A freqüência de VED na amostra aleatória foi de 30,8%, sendo 67,7% de intensidade leve, 40% com padrão parenquimatoso, 36% basal e 24% mista. Entre as mães normotensas, a freqüência de VED foi de 39% (59/151), nas com DHEG 29,7% (11/37) e nas hipertensas crônicas 32% (8/25). A vilosite basal isolada, não acompanhada do componente parenquimatoso, ocorreu com uma freqüência acentuadamente maior nas normotensas (42,3%) que na DHEG (9,0%) ou com hipertensão crônica (12,5%). Nestes dois últimos grupos, a quase totalidade das vilosites tinha o componente parenquimatoso (90,9% na DHEG e 87,5% na hipertensão crônica). Em relação à intensidade da VED nos grupos maternos, embora houvesse um predomínio de vilosites leves em todos eles, observamos uma maior freqüência de vilosite moderada e intensa nas mães com hipertensão, específica ou não da gravidez (DHEG 54,5%, hipertensão crônica 37,5% vs normotensas 28,8%). No grupo dos RN a VED foi encontrada em 34,2% (13/38) dos RN PIG, não diferindo significantemente do observado entre os RN NÃO PIG (37,1%- 65/175). A vilosite basal isolada ocorreu com uma freqüência acentuadamente maior entre os RN NÃO PIG (40%), enquanto que a quase totalidade das vilosites nos RN PIG tinham o componente parenquimatoso (92,3%). A maioria das lesões nos grupos de RN era leve (PIG 69,3%, NÃO PIG 66,1%). Treze das 47 placentas estudadas para verificar a relação da freqüência de VED com o número de fragmentos examinados apresentavam vilosite. A probabilidade de diagnosticar vilosite aumentava diretamente com a quantia de fragmentos examinados, porém, acima de 5 e até 8 não houve um acréscimo significante deste diagnóstico. CONCLUSÕES: A freqüência de VED na população estudada foi alta, cerca de 30%, e não diferiu significantemente da freqüência encontrada entre mães normotensas ou com hipertensão arterial crônica ou específica da gravidez e entre RN PIG ou NÃO PIG. Esta freqüência alta é provavelmente influenciada pelo grande número de fragmentos/placenta por nós examinados, visto que a maioria das VED era de intensidade leve. A vilosite basal isolada ocorreu predominantemente em mães normotensas ou em recém-nascidos não pequenos para a idade gestacional, enquanto que em mães com doença hipertensiva específica da gravidez ou com hipertensão crônica e em recém-nascidos pequenos para a idade gestacional havia uma freqüência significantemente maior de vilosite com componente parenquimatoso. Estes achados apóiam a hipótese de que a vilosite basal isolada pode ser resultante de uma estimulação antigênica diferente daquela com componente parenquimatoso e não interfere com a nutrição fetal. Cinco fragmentos por placenta é um número adequado na rotina de patologia cirúrgica para diagnosticar VED.

ASSUNTO(S)

inflamação placenta

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