Uso e seleção de hábitat, atividade diária e comportamento de Nasua nasua (Linnaeus, 1766) (Carnivora; Procyonidae) na Ilha do Campeche, Florianópolis, Santa Catarina

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O carnívoro procionídeo Nasua nasua, o coati, é uma espécie típica da América do Sul da qual, até pouco tempo, havia escassas informações. Na ilha do Campeche, localizada na costa sudeste de Florianópolis-SC e com área aproximada de 50 ha, buscou-se avaliar os seguintes aspectos de N. nasua: uso e seleção de hábitat, padrão de atividade diária, influência de fatores abióticos sobre a atividade dos animais, uso do espaço vertical e comportamento. Também foram coletados dados descritivos, principalmente de observações casuais, tais como reação à presença de observador, interação com os humanos, relações com o meio, início e término das atividades diárias, período reprodutivo, coesão de grupo, competição, predadores e mortalidade. Entre fevereiro de 2005 e fevereiro de 2006, para a obtenção dos dados, sazonalmente, foram percorridas trilhas fixas, as quais abrangiam a maioria dos hábitats da ilha, isso de maneira sistematizada e em classes horárias preestabelecidas. Durante 60 dias de amostragem, totalizando 420 horas de busca, foram registradas 270 detecções, 80 de indivíduos solitários e 190 de bandos. O padrão de atividade diária dos bandos e dos animais solitários não esteve correlacionado. Houve variação da atividade dos bandos ao longo do dia, ocorrendo picos de atividade no início da manhã e no final da tarde. A variação da atividade dos animais solitários não foi significativa, mas o maior número de detecções ocorreu pela manhã. O padrão diário de atividade dos bandos e dos solitários não foi o mesmo entre as estações do ano. Além disso, a intensidade de atividade foi maior na primavera e no verão para ambas as organizações sociais. Entre 18.00 h e 19.00 h houve uma redução da atividade dos bandos, ao passo que os solitários tenderam a continuar ativos no mesmo período no outono e no verão. Os hábitats foram usados de maneira heterogênea, havendo um mesmo padrão de uso e seleção geral por parte dos bandos e dos solitários. A floresta ombrófila densa foi usada preponderantemente e, em segundo plano, a formação antrópica, sendo ambas selecionadas positivamente. Sazonal e diariamente, os animais mantêm o mesmo padrão de uso dos hábitats, havendo uma diversificação maior do uso na primavera. A floresta ombrófila densa foi usada em maior proporção na maior parte do dia, principalmente nos períodos iniciais e finais. A maior variação no uso dos hábitats ocorreu nos períodos próximos do meio-dia. A seleção de hábitat variou ao longo do ano, sendo observada a seleção da floresta ombrófila densa pelos bandos e a formação antrópica pelos animais solitários. O número de detecções dos coatis em atividade esteve relacionado positivamente com o fotoperíodo e negativamente com os períodos da metade do dia e com a tarde. Ao perceberem a presença de observador, freqüentemente os animais emitiram vocalização de alarme, fugindo em seguida ou, principalmente quando arborícolas, permanecendo imóveis. Os coatis interagiram com os humanos fundamentalmente para obtenção de alimento, o que geralmente provocava conflitos. Tocas entre rochas eventualmente foram usadas pelos animais para forragear. Em condições de chuva forte os animais permaneceram inativos em árvores. Os coatis construíram ninhos nas árvores para descansar. Esses foram encontrados freqüentemente em Syagrus romanzoffiana e Syzygium jambolanum, das quais os animais consumiram os frutos, principalmente da primeira. Os coatis construíram conexões entre as árvores, unindo galhos suspensos, para facilitar o deslocamento arborícola. Além disso, foram observados animais percorrendo um mesmo trajeto no estrato arbóreo. Foi constatada certa sincronia do início e término das atividades diárias dos animais com o nascer e pôr-do-sol, entretanto foram registrados coatis solitários ativos durante a noite no inverno e na primavera. O período de acasalamento, provavelmente, compreende o final do inverno, setembro, ocorrendo o nascimento dos filhotes entre o final de novembro e início de dezembro, na primavera. Durante o dia os coatis usam mais o solo, havendo variações durante o outono e inverno, bem como nos primeiros e nos últimos períodos do dia, quando o estrato arbóreo foi mais usado. As categorias comportamentais registradas foram o forrageio, deslocamento, postura neutra, manutenção, interação social não-agonística e vocalização, sendo as duas primeiras as mais representativas. Os bandos demonstraram uma diversificação comportamental maior. Sazonalmente, os animais solitários mostraram maior variação comportamental, enquanto que os bandos apresentaram um padrão mais uniforme, ocorrendo no verão a maior diversificação comportamental. Os dados deste estudo contribuíram para ampliar o conhecimento sobre a biologia e ecologia da espécie N. nasua. Entretanto, é necessário que outros estudos sejam realizados para corroborar com estes resultados, vislumbrando, assim, identificar padrões que possam evidenciar a plasticidade da espécie em viver nos diferentes ambientes ao longo de sua distribuição geográfica e, sobretudo, subsidiar estratégias de conservação.

ASSUNTO(S)

nasua nasua campeche, ilha (sc) comportamento animal

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