Um estudo de caso sobre a reinserção social de portadores de transtorno mental em Belo Horizonte-MG / A case study on social rehabilitation of individuals with mental illness in Belo Horizonte-MG

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

No final da década de 1970 teve início a reforma psiquiátrica no Brasil, que propunha a substituição da internação hospitalar, como única alternativa para a abordagem da crise, por novas alternativas de tratamento para os portadores de transtorno mental (PTM), como as moradias protegidas. A moradia protegida propõe construir dispositivos que possam auxiliar na construção da autonomia possível para os PTM e na sua real inserção social a partir do respeito à sua subjetividade e da crença da sua capacidade de convivência e produção, ainda que marcadas por uma história de exclusão. A presente pesquisa teve como objetivo analisar o processo de reinserção social dos usuários de uma moradia protegida, construída sobre os pressupostos da reforma psiquiátrica. A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, tendo sido utilizado o método de estudo de caso em que os instrumentos de coleta de dados foram a pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas. Para a análise dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, em especial a análise temática, tendo como unidade de significação “vivenciando o processo de reinserção social”. A pesquisa apontou que os sujeitos entrevistados possuem posicionamentos diferentes em relação à reinserção social dos PTM. Do ponto de vista da equipe profissional da moradia protegida e dos ex-moradores, o processo de desospitalização preconizado pela reforma psiquiátrica e a vivência na moradia protegida possibilitaram um ganho importante de autonomia, a possibilidade de conviver no social e de se relacionar com o outro. A moradia protegida aparece nas falas dos exmoradores como o local que possibilitou o retorno ao convívio social, favorecendo o desenvolvimento das condições necessárias para a autonomia e a inclusão social. Pode-se afirmar que a autonomia diante do sofrimento foi conquistada por esses sujeitos, embora condicionada a uma autonomia social “vigiada”, uma vez que ainda requerem dispositivos assistenciais do entorno social mais próximo, com limitações em termos da liberdade, criatividade e participação. Conclui-se que os ex-moradores da moradia protegida pesquisada passaram por um processo limitado de reinserção social, definida como a possibilidade do sujeito fazer parte do contexto social, estando incluído nos diversos setores e acontecimentos da vida cotidiana, uma vez que existem inúmeras questões que perpassam a realidade dos PTM, sejam elas biológicas, psíquicas ou sociais. Ocorre um processo de reapropriação pessoal, mas com limitação na criação de espaços próprios e na consolidação dos laços afetivos, principalmente familiares. Enfim, a responsabilização da família pela reinserção social do PTM que passou pela moradia protegida restringiu-se à administração dos recursos e das situações de crise ou conflitos. Nesse sentido, deve-se rever o posicionamento da reforma psiquiátrica de desinstitucionalização, por meio de um olhar multidimensional acerca dos modos de ser e de querer do PTM, da forma de viver e conviver na comunidade e em família, bem como das condições das unidades familiares e das redes sociais.

ASSUNTO(S)

economia domestica individuals with mental illness reforma psiquiátrica portador de transtorno mental social rehabilitation psychiatric reform resinserção social

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