Tratamento cirúrgico da polipose adenomatosa familiar: anastomose íleo-retal ou bolsa ileal?

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FONTE

Arquivos de Gastroenterologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

2009-12

RESUMO

CONTEXTO: As controvérsias quanto a melhor forma de tratamento da polipose adenomatosa familiar confrontam a morbidade da proctocolectomia restauradora contra a suposta mortalidade decorrente de câncer retal após íleo-reto anastomose. OBJETIVOS: Avaliar as complicações operatórias e a evolução oncológica dos pacientes submetidos a íleo-reto anastomose ou proctocolectomia restauradora. MÉTODOS: Analisaram-se os dados dos doentes tratados entre 1977 e 2006, procedendo ao levantamento de dados clínicos gerais, endoscópicos, resultados do tratamento cirúrgico, dados anatomopatológicos e informações sobre a evolução precoce e tardia dos pacientes. RESULTADOS: Foram tratados 88 pacientes, sendo 41 homens (46,6%) e 47 mulheres (53,4%). Por ocasião do diagnóstico, 53 pacientes (60,2%) já tinham câncer colorretal associado à polipose. Registraram-se complicações operatórias em 25 doentes (29,0 %) dentre os 86 operados, sendo 17 (19,7%) precoces e 8 (9,3%) tardias. Houve mais complicações após proctocolectomia restauradora (48,1%) em comparação às proctocolectomias com ileostomia (26,6%) e íleo-reto anastomose (19,0%) (P = 0,03). Não houve mortalidade operatória. O risco cumulativo de câncer retal após íleo-reto anastomose foi de 17,2% após 5 anos, 24,1% após 10 anos e 43,1% após 15 anos de seguimento pós-operatório. Já o risco cumulativo idade-dependente começou a existir a partir de 30 anos (4,3%), passando para 9,6% aos 40 anos, 20,9% aos 40 anos e 52% aos 60 anos. Entre os pacientes submetidos a bolsa ileal com seguimento (26), apenas 1 doente (3,8%) desenvolveu câncer na bolsa ileal. CONCLUSÕES: 1. Ocorreram complicações operatórias em cerca de 1/3 dos pacientes, sendo mais frequentes após a confecção de bolsa ileal; 2. idade maior, tempo de seguimento e câncer colônico prévio se associaram ao desenvolvimento de câncer no coto retal após íleo-reto anastomose; 3. pacientes tratados por proctocolectomia restauradora não estão livres do risco de degeneração na bolsa ileal; 4. a complexidade da doença e a existência de diversos fatores de risco envolvidos (clínicos, endoscópicos, genéticos) indicam que a melhor decisão operatória seja baseada em características individuais a serem consideradas por um especialista; 5. todos os pacientes operados requerem vigilância contínua e prolongada no seguimento pós-operatório.

ASSUNTO(S)

polipose adenomatosa do cólon pólipos adenomatosos neoplasias colorretais proctocolectomia restauradora anastomose cirúrgica

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