Transtornos depressivos e ansiosos em esclerose múltipla

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2007

RESUMO

A esclerose múltipla é uma doença neurológica crônica, desmielinizante, de caráter auto-imune, que acomete o sistema nervoso central em pacientes com predisposição genética. Os indivíduos acometidos são geralmente jovens e do sexo feminino (2:1). Em Belo Horizonte, estima-se uma prevalência de 18:100.000 habitantes, porém, apesar da baixa ocorrência, a esclerose múltipla constitui a causa de incapacidades neurológica mais comum entre adultos jovens e de meia idade. A presença de sintomas psiquiátricos como humor deprimido, ansiedade, irritabilidade e ideação suicida em pacientes com esclerose múltipla é conhecida desde as primeiras descrições da doença, ainda no século XIX. Entretanto, não há estudos sistematizados sobre distúrbios psiquiátricos ou ideação suicida nessa população. Este estudo tem por objetivo, pois, avaliar a frequência de transtornos depressivos e ansiosos em 61 indivíduos com esclerose múltipla em acompanhamento ambulatorial, e avaliar possíveis vaiáveis clínicas e sócio-demográficas associadas. A frequência de ideação suicida também é analisada. Por última investigam-se as propriedades psicométricas do Inventário de Depressão de Beck como instrumento de avaliação aos sintomas depressivos nessa população. Os pacientes foram, em sua maioria, do sexo feminino (45F:16M) e apresentaram idade média (± DPM) de 38 anos (±9,0). Cerca de 81% dos pacientes evoluíram com a forma remitente-recorrente e tinham aproximadamente 8 anos de doença, com mediana de incapacidade neurológica de 3,5 na escala EDSS. Transtornos depressivos estiveram presentes em 44% dos pacientes, sendo depressão maior 29*% e, distimia, 21%. Não houve associação entre características clínicas ou sócio-demográficas e transtornos depressivos nesses pacientes. Transtornos ansiosos estiveram presentes em 54% da amostra, sendo 24% fobia social, 24% transtornos de pânico e 36% transtornos de ansiedade generalizada. A presença de fobia social associou-se à maior incapacidade neurológica, embora outros transtornos ansiosos não tenham apresentado associação entre transtornos ansiosos e depressivos nesta população e constatou-se elevada frequência de ideação suicida (20%). Esta se associou à idade mais jovem, à presença de transtornos depressivos e ansiosos (especialmente depressão maior e transtorno de pânico), e à maior gravidade dos sintomas ansiosos e depressivos. Não houve, entretanto, associação com grau de incapacidade neurológica. Por último, o Inventário de Depressão de Beck na versão de 21 itens e com ponto de corte em 17 mostrou ser um bom instrumento de avaliação dos sintomas depressivos em pacientes com esclerose múltipla. Além da rapidez e da facilidade na aplicação, o inventário apresentou sensibilidade e especificidade adequados (S=0,89; E=0,88). Em suma, o estudo mostra uma frequência elevada de transtornos depressivos e ansiosos em pacientes com esclerose múltipla. O Inventário de Depressão de Beck pode ser um instrumento de importante utilidade clínica no reconhecimento dos transtornos depressivos nesses pacientes.

ASSUNTO(S)

depressão/classifcação decs transtorno depressivo decs inventário de personalidade decs pacientes/psicologia decs esclerose múltipla/complicações decs

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