Trajetórias em movimentos: a construção da identidade política na organização das mulheres trabalhadoras rurais em Minas Gerais

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta dissertação analisou as trajetórias de luta de mulheres trabalhadoras rurais no Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais em Minas Gerais (MSTTR) entre os anos de 1989 e 2002 considerando os aspectos psicossociais envolvidos na construção da sua identidade política. Analisamos como lideranças da Comissão Estadual das Trabalhadoras Rurais (CEMTR) da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (FETAEMG) localizam e nomeiam, ao longo do tempo, relações de poder hierárquicas e como constroem bandeiras de luta, formas organizativas e estratégias individuais e coletivas de enfrentamento. Consideramos também dois movimentos autônomos o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e a Rede de Intercâmbio de Mulheres Trabalhadoras Rurais para analisar a experiência de organização no MSTTR a partir desses espaços. Utilizamos procedimentos da pesquisa qualitativa: entrevistas semi-estruturadas, observação participante, análise de documentos e material simbólico produzido pelos movimentos, registro e análise do diário de campo. Os resultados acerca da construção da identidade política nas trajetórias das lideranças foram organizados em quatro categorias: 1) à origem da militância nos anos 1980 nas CEBs, CPT e no novo sindicalismo que vão proporcionar o terreno sobre o qual se ancorou o projeto político de esquerda dessas mulheres; 2) à sua articulação no MSTTR estadual e nacionalmente, considerando: bandeiras de luta, formas organizativas, repercussões da sua entrada na agenda política do MSTTR e o enfrentamento das relações de poder nesse espaço. O poder é vivenciado pelas trabalhadoras rurais como 2.a) Caminho das Pedras relacionado à sua participação nos espaços mistos e pelas reconfigurações dos espaços privados que a participação proporciona; 2.b) Acesso a Recursos no âmbito material e simbólico; 2.c) um Jeito de Fazer Política, próprio das mulheres rurais, eticamente e epistemologicamente orientado pela forma como elas conhecem e interagem com o mundo. Essa interação pressupõe a incorporação de temas do cotidiano, da sobrevivência, da solidariedade, das relações interpessoais no fazer político; 3) a terceira categoria da construção identitária está ligada à ruptura sofrida em 2002 pelo grupo de mulheres cutistas que compunham a CEMTR, que culminou com a sua saída da Federação; 4) às formas de articulação estadual que esse grupo têm empreendido através do movimento autônomo Rede de Intercâmbio de Mulheres Trabalhadoras Rurais e nos conflitos que as rurais ainda enfrentam para garantir sua inserção nos espaços de participação. As trajetórias revelam que os processos de construção identitária basearam-se em como os conflitos com os poderes hegemônicos se estabeleceram ao longo de sua história. A construção da identidade política foi marcada pela maneira como as mulheres nomearam seus adversários, ou seja, como se estabeleceram como um Nós em oposição a um Eles, nos diversos períodos de sua trajetória: no início da militância, no período integradas à dinâmica do MSTTR, na ruptura, no retorno às bases e na articulação da Rede de Intercâmbio. Conformam sua identidade política as estratégias acionadas por elas para construir formas de exercício do poder que fossem eticamente e epistemologicamente orientados pelos ideais de respeito às diferenças e de luta por igualdade e liberdade.

ASSUNTO(S)

feminismo teses. psicologia teses. trabalhadoras rurais teses. psicologia social teses. movimentos sociais rurais teses.

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