The relationship between university and social movements in Latin America : social housing, agroecology and recovered factories / A relação universidade-movimentos sociais na America Latina : habitação popular, agroecologia e fabricas recuperadas

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2010

RESUMO

Este trabalho trata da relação da universidade pública com atores (e projetos políticos) externos, hoje percebida, de vários ângulos, como inadequada e demandando uma reorientação proveniente desses atores. Pretendeu-se descrever e articular, numa compreensão totalizante, a atuação, os limites, desafios e contradições presenciadas por alguns pesquisadores-extensionistas das ciências duras considerados por nós pólos avançados da relação universidade-movimentos sociais na América Latina. Como era de se esperar dada a politização inerente ao tema, o trabalho se baseia explicitamente numa perspectiva ideológica: de esquerda. E num referencial analítico-conceitual inspirado no marxismo contemporâneo e nas contribuições críticas do Pensamento Latino-americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Coerentemente com essas opções e intenções, o trabalho adota um propósito normativo: conceber uma proposta que aproxime as atividades de extensão, pesquisa e docência da universidade pública latino-americana da agenda dos movimentos sociais. Para dar conta desse desafio, foram seguidos três procedimentos atinentes aos momentos de descrição, explicação e prescrição, usuais em trabalhos desta natureza. O primeiro foi a pesquisa bibliográfica envolvendo, principalmente, levantamento e crítica de autores com distintas orientações que tratam o tema enfocando as questões de natureza ideológica e política que julgamos mais pertinentes a sua abordagem. O segundo, o estudo de campo visando à observação, no âmbito de grupos de pesquisadores-extensionistas das ciências duras que têm atuado em consonância com o posicionamento adotado em função de nossas convicções e do resultado da pesquisa bibliográfica realizada. O terceiro, o contraste entre os resultados dos dois procedimentos anteriores de modo a informar o momento prescritivo em que se buscou sugerir cursos de ação visando à construção de uma alternativa à universidade atual, que seja mais sintonizada com os movimentos sociais. A Introdução trata da trajetória das instituições (universidades, institutos de pesquisa, política de C&T, estrutura de fomento) públicas latino-americanas e da sua relação com aspectos explicativos de caráter político, sócio-econômico dos contextos nacional e internacional e com características específicas dos atores que influenciaram - no plano da policy e da politics - esta trajetória dando especial atenção ao comportamento da comunidade de pesquisa. Os resultados da pesquisa bibliográfica são apresentados nos dois primeiros capítulos. O Capítulo 1 reflete sobre as mudanças mais profundas que a América Latina presenciou nos últimos 40 anos: financeirização da economia, baixo crescimento, mudanças no mundo do trabalho (avanço do toyotismo, aumento do desemprego, subemprego estrutural, etc.), as reformas do estado, a concentração de renda e a favelização da América Latina. Ele encerra com as rebeliões populares que tentaram subverter este processo. O Capítulo 2 trata dos fundamentos teórico-práticos de um estilo de desenvolvimento alternativo que poderá emergir como extrapolação de tendências portadoras de futuro observáveis na região. Baseado na propriedade coletiva dos meios de produção, na autogestão, na desmercantilização e, no contexto reflexo mais adstrito ao tema do trabalho, numa visão crítica à Neutralidade e ao Determinismo da tecnociência e, em conseqüência, numa participação ativa dos setores sociais hoje excluídos no desenvolvimento científico e tecnológico. Os resultados do estudo de campo são apresentados nos três capítulos seguintes. Eles abordam a relação entre grupos de pesquisadores-extensionistas latino-americanos provenientes das ciências duras e da arquitetura e os movimentos sociais. Ressaltando sua condição de frutos da contradição entre a trajetória apresentada no Capítulo 1 e as percepções que ela engendra, expostas no Capítulo 2, são aqui tratados três aspectos positivos principais de sua atuação: os argumentos teóricos fundamentados em sua autoridade científica e em conhecimento prático oriundo de um sólido trabalho de pesquisa e ação; o resgate histórico de experiências e teóricos alternativos, as críticas que fazem, nos seus respectivos campos (habitação popular, agroecologia e fábricas recuperadas) à tecnologia convencional (desnaturalização da indústria da construção civil, o papel da revolução verde, a tecnologia e organização heterogestionária do trabalho na indústria) e ao tipo de assistência técnica vigente no país (difusionista, pouco dialógica, concebida tendo em vista os grandes produtores e não os trabalhadores); a análise da autogestão, desmercantilização e as críticas à propriedade dos meios de produção, a maneira como combinam teoria e prática, saber e poder, concepção e execução, aprendendo com o conhecimento dos trabalhadores e, conferindo "intenção" à extensão, ao inserir estudantes e pesquisadores na transformação da universidade pública, e as "propostas" de assistência técnica e de adequações tecnológicas que fazem. Foram também observados quatro aspectos que tendem a dificultar a ação dos grupos pesquisados e, de maneira geral, a transformação que desejam. No plano cognitivo, a manutenção, por parte de seus pares, da concepção da Neutralidade e do Determinismo da tecnociência. No plano das políticas públicas em geral, a escassa atenção conferida pelo atual governo à garantia dos direitos dos movimentos sociais, à criação de mecanismos de controle das corporações e criação de condições gerais de produção para os movimentos sociais. Num cenário mais amplo, as contingências históricas que a esquerda vem passando, dentre eles a crise teórica e o avanço do capital, que a colocam na defensiva. No plano da política universitária e de C&T, a orientação para o "privado", que segue impedindo as universidades e institutos de pesquisa públicos a cumprirem sua missão de dedicar-se à melhoria do que é "público" através de alianças com os movimentos sociais. O último capítulo se inicia com um retrospecto de experiências latino-americanas de construção de uma universidade alternativa. Na Argentina, se analisam a Reforma de Córdoba de 1918, a criação de Universidades Populares e o contexto revolucionário dos anos 1960. No Brasil, a criação e destruição do projeto da Universidade de Brasília na década de 1960. Principalmente nesses momentos históricos foram levantadas as bandeiras de união latino-americana, alianças entre a universidade e os "movimentos sociais" e formação de intelectuais públicos. As lições dessas experiências no que respeita à necessidade de uma pressão simultânea "de dentro" e "de fora" da Universidade foram o pano de fundo para entrelaçar o que foi tratado nos capítulos anteriores na direção de proposições conclusivas. Como proposta orientadora da construção da universidade alternativa, concluímos que uma revolução socio-política protagonizada pelos movimentos sociais é certamente uma condição necessária. Mas associá-la a uma revolução cognitiva nucleada pelo questionamento da concepção da Neutralidade e do Determinismo da tecnociência é imprescindível para que essas condições componham um conjunto suficiente. O fato de que essa condição, embora seja interna à universidade, dependa da participação do "ator" política que pesquisamos - os movimentos sociais - indica como é importante seguir explorando o tema

ASSUNTO(S)

universidades e faculdades social movements movimentos sociais - america latina universities and colleges

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