The generations disorderliness and school denial: youth case studies in psychopedagogy. / A desordem das gerações e a recusa escolar: estudos de casos de adolescentes em psicopedagogia.

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

Esta pesquisa qualitativa tem como base estudos de casos de adolescentes com dificuldades escolares, analisados dentro do contexto da psicopedagogia clínica. Trata-se de jovens de famílias de nível socioeconômico médio, freqüentadores de escolas particulares e que, apesar da formação familiar, apresentam dificuldades de aprendizagem. A princípio, a problemática dos adolescentes parece corresponder à falta de autonomia no processo de aprendizagem escolar. No entanto, um exame mais atento revela a ambivalência dos jovens em face da ordem escolar. O aprofundamento na dinâmica familiar desses jovens indica certa conivência dos pais diante dessa ambivalência. Portanto, são casos que remetem à complementaridade entre certas configurações familiares e os problemas na escolaridade dos adolescentes, em virtude do enfraquecimento das barreiras geracionais e normativas entre pais e filhos. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa consiste em investigar a recusa escolar entre os adolescentes e verificar a influência da negação da diferença geracional dos adultos nessa problemática. Para tanto, analisam-se primeiramente, os pressupostos históricos e teóricos da psicopedagogia, e, mais detidamente, os da psicopedagogia clínica proposta por Sara Paín. Utilizando a metodologia de investigação científica dos estudos de casos, realiza-se uma descrição detalhada dos casos, explicitando suas variáveis. Os estudos de casos evidenciam um conflito subjacente: o anseio do jovem de conquistar a autonomia, em contraposição às tendências que mantêm as relações de dependência com os pais. Recorre-se à psicanálise para aprofundar certos aspectos desse conflito, com base no trabalho de Jeammet e Corcos. Segundo esses autores, a adolescência demandaria ao jovem a articulação entre o mundo interno e o mundo externo, isto é, um trabalho psíquico de consolidação das bases narcísicas e das relações objetais, no sentido de o sujeito concluir seu processo de identificação, para assim se dirigir ao mundo adulto. Esse trabalho se realizaria por meio da dependência (transitória) em relação aos pais. No caso dos jovens analisados, há uma reação negativa à dependência mediante a recusa de intercâmbio com os pais e com os objetos de interesses, dentre eles, a escola. Constata-se que nesses casos se apresentam situações que revelam uma pseudomutualidade nas relações entre pais e filhos e a decorrente fragilização de limites em benefício do aumento das exigências narcísicas. Procurando compreender esses casos dentro do contexto da denominada pós-modernidade e seus efeitos sobre as relações intergeracionais, investiga-se ainda o amplo processo de mudanças sociais da segunda metade do século XX, derivando no que Lipovestky chama de cultura narcísica. Dentre os elementos da cultura narcísica que afetam as relações intergeracionais, constam a idealização social da juventude, a erosão das identidades e a dissolução das normas educativas. Nas famílias estudadas, verificou-se ainda a atualização, em termos pós-modernos, de traços culturais atribuídos à família brasileira por pensadores como Sérgio Buarque de Holanda. O fenômeno da modernização reativa, da superposição de valores tradicionais e modernos levou, como se constata nesses estudos de casos, à diluição de diferenças de gerações. Nesse sentido, a recusa escolar dos jovens pode consistir em uma atuação da recusa do luto da juventude por parte dos pais.

ASSUNTO(S)

dependence school denial adolescência adolescence autonomia autonomy recusa escolar psicopedagogia. dependência

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