The fear and social links in Brazil / O medo e os vínculos sociais no Brasil

AUTOR(ES)
DATA DE PUBLICAÇÃO

2005

RESUMO

A matéria deste estudo é o vínculo entre desiguais, organizado por relações de mando-obediência de forma a configurar os termos dominante-dominado. O vínculo é uma noção que abrange simultaneamente a relação social e o processo psíquico a ela subjacente, por isso é um instrumento teórico útil quando o interesse da investigação são processos psicossociais. A análise das relações de mando-obediência indica a presença de elementos da cultura paternalista, mesmo em relações de trabalho francamente capitalistas. Os efeitos desta cultura atingem a subjetividade do trabalhador tornando mais complexo o esforço de lutar por seus interesses. Os operários oscilam entre duas formas de ordenação do vínculo; a ordenação moral, própria da cultura paternalista, se alterna com a ordenação por interesse, própria do modo capitalista de produção. Observamos como a ideologia da organização de trabalho utiliza as disposições emocionais e significantes tradicionais para melhor realizar seus objetivos de lucro. É de especial interesse acompanhar alguns dos efeitos da cultura paternalista sobre a vida social, como a dificuldade para autorizar-se diante do que se tem efetivamente autoridade, fazer valer direitos e conviver com autoridades corruptas. Há também os efeitos sobre a subjetividade, em especial o sentimento paranóide, a ameaça que representa formas de autonomia, o rebaixamento da auto-estima, resultado de falhas narcísicas associadas à carência de sentido do que é público. A identificação com o agressor coloca o problema de vivermos com um ideal cujo sentido é negativo em relação ao sujeito. Uma conseqüência é a rejeição do brasileiro por ele mesmo. Sugiro haver conflitos estruturantes da nossa subjetividade e dos vínculos, levando-nos a viver como gente de primeira e de segunda; as respostas são diversas, mas cada um terá de se haver com esta questão. Brasil é um nome que nos habita e que habitamos. A maneira como se pratica a lei, em que muitas vezes a autoridade não a representa, mas acaba por substituí-la intensifica as ressonâncias da cultura paternalista. O desenho da tese é partir de um núcleo: análise das relações de trabalho com trabalhadores acidentados para identificar os processos que conduzem ao acidente de trabalho. A seguir, dimensionar a relação de trabalho como relação entre classes dominantes e subalternas, permeia a essas relações a suspeição. A condição social de dependência e o vínculo de sujeição também são termos comuns a ambas situações, o elemento que permanece reprimido é a ânsia por autonomia, ser par si em contraposição ser para servir. A análise da práxis de profissionais da rede pública de saúde indica a construção de uma organização psíquica e ideológica com pressupostos distintos dos paternalistas, de forma que o outro não seja ocasião para demonstrar uma superioridade qualquer, mas de oferecer a ele o que se tem de melhor, construindo, com reciprocidade, um vínculo com menos características sado-masoquistas e mais em conformidade com a organização genital da libido, ou seja, fecundo para ambos. A diferença, no caso, não tem adjetivação

ASSUNTO(S)

cultura paternalista subjetividade organização genital da libido sentimento paranóide autoridade genital organization of libido psicologia social paternalistic culture falhas narcísicas narcissistic gaps paranoide feeling subjectivity vínculos authority identidade social - brasil links

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