TERRITÓRIO DA PROSTITUIÇÃO E INSTITUIÇÃO DO SER TRAVESTI EM PONTA GROSSA PR

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2008

RESUMO

O objetivo deste trabalho é compreender a co-relação existente entre o território da prostituição travesti e a instituição do sujeito travesti na cidade de Ponta Grossa, Paraná. A linearidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo sexual é uma característica comum da sociedade ocidental contemporânea que procura a todo custo manter explicações da ordem heterossexual baseadas na natureza dos corpos e comportamentos. Sob esta perspectiva os sujeitos que não correspondem aos padrões estabelecidos são considerados desviantes, doentes e outros tantos qualificativos criados para classificar a sociedade e manter sua pretensa ordem natural. O grupo focal eleito para esta pesquisa é justamente aquele que desafia as explicações simplistas e complexifica a ordem estabelecida, as travestis. Utilizamos este termo para nomear as pessoas que assim se identificavam e que, em sua maioria, estavam envolvidas com a atividade da prostituição. As espacialidades desenvolvidas pelas travestis são elementos de fundamental importância na existência do grupo, mesmo que marginal. O espaço condiciona as posições de sujeitos, compõe relações de forças, e orienta as escolhas e sua apreensão da realidade. Assim, após a análise de todas as entrevistas realizadas com o grupo focal das travestis, detectamos um conjunto de 906 evocações referentes às relações estabelecidas na família, relações de conjugalidade, e relação entre as travestis e deste grupo com moradores e policiais. As espacialidades que compõem as memórias travestis simultaneamente criam os laços de afetividade do grupo de pertença e a diferenciação entre outros grupos. São constituidoras da experiência travesti e da identidade travesti, relacionadas a reprodução da heteronormatividade, bem como de sua transgressão. As principais espacialidades evocadas nas falas das travestis estavam relacionadas a casa, ao espaço urbano, e ao território. As experiências que são vividas pelas travestis, relacionadas a casa e ao espaço urbano, são compartilhadas no grupo, promovendo processos de identificação, processo que conflui para o espaço que se torna território. É a vivência do território, instituído por normas e comportamentos orientados aos corpos, que produzem as identidades travestis, conseguindo localizar estas pessoas perante outros grupos sociais. Porém, as posições de sujeitos são móveis, em centro e margem, pois o território da prostituição travesti é relacional, envolvendo configurações de poder entre os sujeitos que configuram as relações. O território é constituído por múltiplas dimensões, podendo a travesti em cada uma delas se encontrar em centro e margem de relações de poder. É esta possível plurilocalização das travestis que pode subverter a ordem de forças entre eu e outro, pois estes são simultaneamente separados e conectados. O território é um local de obtenção de ganhos da comercialização das práticas sexuais, mas também um elemento importante na constituição do ser travesti, como um local de aprendizado do ser travesti. Território que é constituído e constituínte, assim como corpo, o sexo, o gênero, o desejo e a vida.

ASSUNTO(S)

território normas culturais geografia spatiality territory culture rule espacialidades travesti

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