Tempo e memória na ficção de William Faulkner

AUTOR(ES)
FONTE

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

DATA DE PUBLICAÇÃO

27/06/2011

RESUMO

Este trabalho é um estudo da obra de William Faulkner concernente à Saga de Yonapatawpha. As obras foram lidas a partir das temáticas tempo e memória. Fizemos um percurso teórico sobre o tempo e evidenciamos a concepção pressuposta no romance do século XVIII, que é a de um tempo singular e linear, e no romance moderno, que é singular/plural. Consideramos a narrativa de um modo geral como uma solução poética para a aporética do tempo e apontamos para o vínculo que a obra literária tem com o mundo e com o leitor. Para isso, fizemos um percurso sobre o caráter tríplice da mimese, com base nas considerações de Paul Ricoeur. Nesse sentido, apontamos, em primeiro lugar, a relação da saga, da tessitura da intriga, com a história do sul dos Estados Unidos. Essa demonstração tem pressuposto o entrecruzamento entre a ficção e a história, pois elas, consideradas conjuntamente, têm o poder de refigurar o tempo. Em segundo lugar, fizemos uma análise da obra O som e a fúria. Nesse ponto, nos ativemos às discussões de Gerard Genette e de Robert Humphrey, pois, além de apreendermos a refiguração do tempo na tessitura da intriga, quisemos apreendê-lo no nível da estrutura imanente da narrativa. Valemo-nos do pressuposto de que a narrativa incorporou o conceito de estrutura das ciências sociais e é com foco no conceito de estrutura, de simultaneidade, que mantivemos a relação entre a ficção e a história. Nesse ponto, demonstramos que a concepção de tempo singular/plural foi mimetizada na estrutura imanente da narrativa. Finalmente, evidenciamos que a relação entre tempo e memória aponta para as questões históricas e para questões metafísicas, para a eternidade que é, para Platão e Agostinho, o oposto do tempo da vivência, da experiência. Além disso, evidenciamos que tanto a história quanto a eternidade também incorporam a concepção de tempo singular/plural. Retomamos as ideias de Ricoeur e empreendemos uma discussão no nível de mimese III, mediante o diálogo com grandes críticos da obra faulkneriana. Fizemos a nossa leitura buscando a convergência entre as obras O som e a fúria e Absalão, Absalão. Segundo nossa leitura, essa convergência dá-se no interesse de Quentin pela história da família de Sutpen. Essas obras, sem se libertarem dos aspectos mais lineares do tempo, exploram os níveis hierárquicos que constituem a profundidade e a complexidade da experiência temporal. Finalizamos a demonstração do caráter tríplice da mimese, bem como os níveis de leitura crítica de um texto que devem apontar para dois caminhos: para o nível de configuração da obra e para o mundo que essa configuração projeta para fora de si, que é uma visão de mundo relacionada a uma experiência temporal, que tem suas raízes nas aporias de Santo Agostinho, ou seja, na grande oposição entre a distentio e a intentio animi.

ASSUNTO(S)

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