Taxonomia zoológica no Brasil: estado da arte, expectativas e sugestões de ações futuras

AUTOR(ES)
FONTE

Papéis Avulsos de Zoologia (São Paulo)

DATA DE PUBLICAÇÃO

2006

RESUMO

O Brasil é um país em desenvolvimento megadiverso e o conhecimento da situação atual da taxonomia brasileira é um passo necessário para se estabelecer políticas futuras para lidar com a biodiversidade. Certamente, o ponto mais relevante para o entendimento da biodiversidade é a criação de vagas para absorção de taxonomistas em cargos permanentes. De fato, pouco se conhece sobre o número de taxonomistas, produção científica, e os problemas enfrentados pelos taxonomistas em cada país. Devido a biota brasileira ser a mais rica do mundo, é inquestionável que seu conhecimento é crítico para o entendimento de padrões mundiais de biodiversidade e para embasar políticas de conservação. Nós preparamos um relatório técnico sobre a taxonomia zoológica brasileira para o Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil que fornece uma idéia clara de como o país pode lidar com o desafio de sua biodiversidade. O Brasil possui cerca de 6,67% do total das espécies descritas (ca. 100.000 dos 1,5 milhão), mas estima-se que haja um enorme número de espécies ainda não descritas. O Brasil possui 542 taxonomistas: 415 em cargos permanentes, publicando em todos os campos da zoologia. A média de idade dos taxonomistas é de 45-50 anos e, portanto, a maioria ainda deverá estar ativa nos próximos 15-20 anos. Doutoramentos em taxonomia diminuíram na década de 90, refletindo a falta de interesse mundial pela área. A maioria dos taxonomistas está concentrada no Sudeste (51,7%) e Sul (21,6%) do Brasil, e extensas regiões incluindo biomas como Pantanal, Cerrado, Caatinga e Floresta Amazônica possuem menos especialistas. Táxons com maior número de taxonomistas são "peixes" (53), Crustacea (39), Diptera (28), e Mollusca (27), embora nenhum táxon tenha sido considerado como possuidor de um número suficiente de especialistas. Muitos grupos estão em uma situação mais crítica. Ecossistemas e biomas pouco conhecidos são águas profundas, plataforma continental, linha costeira da região norte, Caatinga semi-árida e Floresta Amazônica, embora nenhuma região seja considerada adequadamente conhecida. 7.320 espécies foram descritas (1978-1995, 430/ano), um ritmo muito lento para as necessidades atuais, especialmente porque muitos ambientes naturais estão desaparecendo. Pesquisadores brasileiros têm importantes contribuições para seus grupos taxonômicos de interesse, colaborando intensamente com colegas estrangeiros. Apesar disso, existe ainda muito trabalho básico por realizar: somente poucos grupos possuem catálogos ou manuais, revisões taxonômicas são restritas (e quase inexistentes para grupos marinhos) e bancos de dados são necessários para as coleções de muitos museus. Pesquisadores brasileiros publicaram 1.801 artigos (dados do ISI-Web of Knowledge, janeiro/2000-março/2005), mas somente três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) foram responsáveis por 70% deste total. As maiores e mais representativas coleções zoológicas estão concentradas em poucas cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belém e Manaus). Existem 22 programas de pós-graduação em Zoologia, 14 dos quais incluindo cursos de doutoramento, a maioria destes situados nos mesmos estados em que as maiores coleções são encontradas e, dentre estes, os melhor avaliados localizam-se nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. No fim de 2003, todos os programas juntos possuíam 477 docentes, 480 mestrandos e 486 doutorandos. Talvez, em comparação com outros países, o Brasil esteja em uma situação bem melhor, embora ainda muito longe do adequado. Claramente, políticas mundiais devem ser elaboradas, mas estas serão ainda mais eficientes se os países souberem exatamente como eles podem lidar e contribuir para o conhecimento global da biodiversidade. Nosso estudo propõe ainda programas, estratégias e orçamentos baseados em dados e necessidades da biodiversidade.

ASSUNTO(S)

sistemática zoologia taxonomia brasil biodiversidade políticas públicas

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