Sob a mira do crime: vitimização, saúde e identidade dos bancários na Bahia

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2003

RESUMO

Considerando a expansão do setor de serviços e o crescimento da criminalidade contra o patrimônio público e privado nos centros urbanos, o presente trabalho tem por objetivo ampliar a discussão dos impactos sobre a saúde dos trabalhadores bancários vitimizados ou expostos ao risco de violência, em decorrência de assaltos e seqüestros a bancos no estado da Bahia. O estudo descreve os tipos de agressão mais freqüentes, os agravos à saúde identificados, as formas de atenção jurídica, administrativa e à saúde disponibilizadas às vítimas, assim como as medidas de segurança adotadas. Trata-se de pesquisa de caráter exploratório, com abordagem qualitativa na coleta e tratamento de dados, tendo como população estudada bancários vinculados a uma instituição financeira de economia mista (capital público e privado) no estado da Bahia. As informações coletadas se originam de um total de 27 entrevistas realizadas, distribuídas da seguinte forma: 14 bancários vitimizados e/ou expostos ao risco de assalto e seqüestros; 4 representantes de sindicato dos bancários e dos bancos; 2 do serviço de saúde ocupacional da empresa; 2 bancários do setor de segurança e recursos humanos do banco; 2 familiares do bancário; 1 representante da CIPA; 1 representante do SESMT; 1 de segurança policial. Na construção do conhecimento sobre o assunto, recorremos a matérias jornalísticas dos anos 2001 e 2002. Adotamos uma tipologia dos crimes a partir da freqüência dos eventos: os assaltos tradicionais, assaltos mediante seqüestro e extorsões mediante seqüestro. Como resultado, verificou-se a necessidade de discussão e adequação sobre os conceitos de acidente de trabalho e aplicabilidade para situações de violência que extrapolam os ambientes laborais e a jornada de trabalho estabelecida, invadindo outros espaços da vida social. Os efeitos da violência no trabalho trazem danos de diversas naturezas, tanto às vítimas quanto à empresa e ao Estado. Os danos à saúde das vítimas foram subdivididos em fatais e não fatais. O estudo revela que os danos à saúde mental estão presentes em todas as situações e podem repercutir de diferentes formas, desde os transtornos psíquicos variados à desagregação da vida cotidiana das vítimas. Constatamos que a atenção (saúde, administrativa e jurídica) prestada às vítimas ainda é desarticulada e em processo de construção, sendo de iniciativa restrita de poucos bancos e com ações pontuais e localizadas. Os dispositivos de segurança adotados pelos bancos não são suficientes para garantir proteção aos trabalhadores e usuários, haja vista que os agressores mudam a forma de agir com a finalidade de anular esses equipamentos. Os serviços de segurança pública revelam fragilidades que denotam uma situação de desvantagem no combate a esse tipo de crime. Neste trabalho, percebe-se que a violência em questão deve ser enfrentada e combatida com ações integradas, que envolvam a sociedade, trabalhadores, entidades sindicais, empresas e serviços públicos.

ASSUNTO(S)

violência relacionada ao trabalho, saúde do trabalho saude coletiva

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